*Texto publicado originalmente no blog "O Dever da Esperança", em fevereiro de 2023. No final dos anos 1910, quase no encerramento da Primeira Guerra Mundial, Max Weber brindou a humanidade com uma conferência chamada “Política como vocação”. Algumas ideias centrais dessa obra, como o título pode sugerir, ajudam a delinear a compreensão sobre a atividade política e apresentam dois modelos éticos distintos: a ética da convicção e a ética da responsabilidade. De forma bem sintética, o modelo da ética da convicção costuma ser o mais comum: as pessoas entendem que há “certos” e “errados” bem delimitados, geralmente movidos por dogmas, máximas ou crenças específicas. Por exemplo: não matar, não roubar, não acobertar um criminoso, não mentir, dentre outros imperativos, sobretudo do que não fazer. Há também aqueles positivos, mas que não necessariamente têm a mesma força para levar à ação: dar esmola e ajudar os mais necessitados, duas das lições mais apregoadas nas expressões reli
Queridas pessoas leitoras, tive vontade de retomar a escrita neste espaço público de monólogo por força da gravidade da crise existencial que venho enfrentando, algo pelo qual cada uma de vocês deve estar igualmente passando graças aos nossos dois anos de pandemia. Essa não é a primeira, nem imagino que seja a última. Mas acho que daqui para frente a forma como lidarei com elas será bem diferente por um motivo inusitado: agora eu tenho meus cachos. Na real, ter ou não ter cachos nos cabelos não é o detalhe marcante. Nem todo mundo que tem cachos entenderia muito bem o sentimento que vem me atingindo nesses últimos quase dois anos. Quase dois anos de reclusão, um treinamento intensivo para não regredir a uma forma de existir anterior que me colocava num lugar menos autêntico (e menos autônomo), combinado com sequelas de uma doença pouco conhecida e de outras seculares, como a solidão em meio aos muitos contatos, a ansiedade do panóptico social digital, e o vício entorpecente em métricas