Escrevi este texto na minha cabeça enquanto caminhava pelo campus mais lindo do mundo, aproveitando cada instante, cada sensação, cada pequena onda que os filhotes de pato faziam na lagoa próxima do meu local favorito daqui, que é por onde passo quando meu coração pede calma e minha alma quer se aconchegar no som do silêncio.
Comecei pouco depois de chegar na árvore que chamo de minha. Ela estava lá, frondosa, mas com menos folhas e galhos do que me lembrava. Prestei atenção nos caminhos que suas raízes faziam e como elas se conectavam com a terra e com as raízes de outras árvores. Como algumas partes delas estavam expostas. E ali, por onde uma delas passava, estava um caminho ladrilhado, no meio do matinho.
Naquele exato momento me lembrei da professora Iacyr falando sobre os caminhos e os ladrilhos. Exatamente aqueles que estavam na minha frente! Ela disse uma vez que os costumes são como os caminhos e que as leis são como os ladrilhos: primeiro a gente abre a passagem por um lugar onde ninguém tinha passado, depois segue passando por lá até que, com o tempo, aquele caminho fica tão comum, tão convencional, que começam a ladrilhar para incentivar que a gente passe por lá, sem precisar abrir outros caminhos.
Mas não adianta: se o caminho ladrilhado deixar de ser tão eficiente quanto andar livremente em outra direção para chegar naquele mesmo lugar, logo outros caminhos serão abertos (e alguém vai mandar ladrilhar - não é a toa aquela musiquinha de ninar).
O que importa aqui é a metáfora do caminho e dos ladrilhos: o caminho vem antes e não necessariamente se pensa quando ele está sendo feito. A GENTE VAI. Passa por cima da grama, das raízes, tem gente que sobe nas árvores e que até escala montanhas. Já pensou naquela galera que explorou pela primeira vez a incrível arte de fazer pontes? Essa galera teve que atravessar lagoa, rio, mar, precipício, enfim, teve que dar um jeito de fazer o caminho, ver o que tinha do outro lado e depois disso inventou de ladrilhar.
Então primeiro a gente vai. Primeiro bota o pé no chão. A gente sente a terra, sente tudo que tem que sentir. Experimenta a sensação alucinante de desbravar algo, de quebrar regras, de passar por fora do caminho ladrilhado pelos outros. É a liberdade que não se compra, mas se paga caro pra manter. Todos os dias.
Com o tempo a gente pode até ladrilhar os nossos próprios caminhos do jeito que quiser. Vai que dá vontade de passar por ali de bicicleta ou de skate? É ao gosto do chef. Mas não se pode alienar seu direito (um grande poder/dever) de abrir e cuidar dos caminhos por onde vai passar. De fazer suas raízes se espalharem, se exporem e se conectarem para que possa crescer como a minha árvore. Para que tenha sempre, por onde quer que ande, aquela sensação de lar. Nem que precise quebrar alguns ladrilhos para isso.
Retificando uma informação: a professora Iacyr me pediu para acrescentar que não foi ela quem comparou os caminhos e ladrilhos da UFV com os costumes e as leis, mas sim o Professor José Dionisio Ladeira, do Departamento de Letras. Ela apenas nos apresentou tal comparação em uma de suas aulas.
Iacyr Vieira Lucas Berdague, li o texto e gostei muito. Preciso ressaltar, no entanto, que a comparaçao das trilhas ou caminhos da UFV com os costumes e posterior transformaçao em lei foi feita pelo meu Professor do curso de Letras da UFV, o Professor José Dionisio Ladeira, e foi assim que apresentei a comparaçao em uma das minhas aulas, fazendo referência ao meu Professor... Se possivel, reveja o texto e acrescente este dado importante. Eu fui apenas uma das que pisei bastante nas gramas deste belo Campus...
ResponderExcluirEsclareço o contexto desse comentário: estávamos discutindo em aula um texto de Roberto de Oliveira Campos sobre leis 'que pegam' e leis 'que não pegam'. As leis 'consuetudinárias', 'de acordo com os costumes', estas 'pegam', 'são obedecidas facilmente...' E então dei o exemplo de todos conhecido: o belo campus da UFV... Gramados e mais gramados foram plantados e o pessoal começou a pisá-lo 'nos caminhos mais diretos, por exemplo, entre o prédio principal e o internato; a sede do DCE e a Biblioteca. Que fez a administração? Traçou passarelas, exatamente nas 'retas' que o pessoal fazia 'para encurtar o caminho'... Acrescento uma pergunta constante no 'Pequeno Príncipe': "Se eu mandar meu general voar e ele não me obedecer, a culpa é de quem?" Saudades... Dionísio.
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