tag:blogger.com,1999:blog-48905906073539930682024-03-04T22:39:57.229-08:00Jogo na lata!Iczto non eczisteLucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.comBlogger82125tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-61997337792537435042024-01-06T05:41:00.000-08:002024-01-06T05:41:18.253-08:00O dilema da filiação: uma crônica sobre as duas últimas eleições presidenciais no Brasil<p><span style="font-family: inherit;"> *Texto publicado originalmente no blog "O Dever da Esperança", em fevereiro de 2023.<br /></span></p><p dir="ltr" id="docs-internal-guid-82ad7323-7fff-24fa-d7d5-d061413788d0" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No final dos anos 1910, quase no encerramento da Primeira Guerra Mundial, Max Weber brindou a humanidade com uma conferência chamada “Política como vocação”. Algumas ideias centrais dessa obra, como o título pode sugerir, ajudam a delinear a compreensão sobre a atividade política e apresentam dois modelos éticos distintos: a ética da convicção e a ética da responsabilidade.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">De forma bem sintética, o modelo da ética da convicção costuma ser o mais comum: as pessoas entendem que há “certos” e “errados” bem delimitados, geralmente movidos por dogmas, máximas ou crenças específicas. Por exemplo: não matar, não roubar, não acobertar um criminoso, não mentir, dentre outros imperativos, sobretudo do que não fazer. Há também aqueles positivos, mas que não necessariamente têm a mesma força para levar à ação: dar esmola e ajudar os mais necessitados, duas das lições mais apregoadas nas expressões religiosas de maior adesão no mundo, não necessariamente se concretizam na vivência diária de quem diz seguir tais doutrinas ou congregar nessas comunidades de fé. Isso, porém, não muda o fato de que a percepção do sujeito no mundo está enviesada e comunicativamente articulada em dualidades simplificadoras de processos decisórios, seja para punir ou absolver, agir ou omitir, apoiar ou criticar, tanto aos outros quanto a si.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na ética da responsabilidade, o sujeito compreende os processos decisórios dentro de suas complexidades e justamente pelo que são: processos. O sujeito que se move por esse modelo ético pode até levar suas convicções para a mesa, mas sabe que elas não são absolutas, não dão conta, por si, da responsabilidade pessoal pelos resultados de sua ação social. É preciso sopesar, então, os conflitos de interesses, os meios, os fins e toda a agenda que envolve o contexto de decisão sobre o agir, seja ele no seu sentido positivo, de concretamente realizar um esforço ao encontro ou em encontro de algum objetivo, ou em seu sentido negativo, de omissão.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Weber ensina que as lideranças políticas, que costumam chefiar a burocracia estável, os funcionários públicos de carreira, tendem a utilizar a ética da responsabilidade como modelo de tomada de decisão, enquanto que seus subordinados vinculam-se a um dever de obediência prescrito pelo modelo da ética da convicção, considerando suas normas, crenças e princípios do Direito Público. Isso porque as lideranças políticas dependem, no seu processo de busca pela ocupação de espaços de poder, abrir mão inclusive de promessas anteriormente feitas ou até mesmo rever alianças e desafetos históricos. Em troca, elas poderiam garantir um meio de sustento (viver “da” política), manter-se nos espaços de poder, usufruir da legitimação jurídica do Estado para violentar e estabelecer mais uma forma de dominação além da carismática, a “dominação pela legalidade” (viver “para” a política).</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os processos eleitorais no Brasil fazem com que pessoas que majoritariamente pensam numa estrutura moldada pela ética da convicção tenham que escolher lideranças que articulam o mundo segundo um outro modelo ético. São, de certa maneira, duas línguas distintas, mesmo que utilizem significantes parecidos. Ouve-se a palavra “democracia” tanto no meio popular, quanto nos meios internos dos partidos, mas seus significados são bastante distintos.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A ideia da defesa da democracia enquanto valor máximo para balizar os processos de escolhas pode conversar com a ética da convicção, mas não se garante no sustento de seu conteúdo. Qual seria o significado da democracia para um eleitor que se entende progressista e não filiado a partido político em 2018? Para um grupo poderia ser ter o Lula como candidato, uma aposta feita pelo Partido dos Trabalhadores como estratégia de comunicação até que o TSE declarasse a sua sabida inelegibilidade. Os motes “Eleição sem Lula é fraude”, “Lula Livre” e “Lula é uma ideia” foram disseminados diuturnamente até que houve a consolidação do nome de Haddad no segundo turno contra Bolsonaro. Outros grupos entenderam de maneira diferente: a defesa da democracia passaria primeiro por um questionamento do </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">status quo</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, tanto sobre as estratégias de governança política, quanto ao modelo econômico.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">As dissonâncias dos significados da palavra democracia no campo progressista, porém, não foram mais fortes na linguagem popular do que a força da convicção de parcela majoritária do povo brasileiro. Essa maioria se convenceu ou foi convencida de que o Partido dos Trabalhadores e tudo anexo a ele representavam um mal maior do que um deputado declaradamente ignorante, sabidamente usurpador da máquina pública em benefício próprio (usava dinheiro do auxílio moradia para “comer gente”), mas que parecia viver no mesmo mundo – conjunto de todos os fenômenos e articulação de sentidos por intermédio da comunicação – ou seja, que falava a mesma língua, percebia a realidade de alguma forma semelhante.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Foi mais ou menos nesse período, próximo das eleições de 2018, em que tive meu primeiro contato com os partidos políticos, tentando construir um debate entre as candidaturas à vice-presidência na Universidade Federal de Viçosa. Conheci amigos filiados a partidos do campo progressista e partilhamos muitos momentos. Mais de uma vez fui chamado de “grande quadro” e instruído na prática da política como fazem nos partidos, sobretudo como funcionam as hierarquias e os processos internos. E foi justamente aí que surgiu o dilema da filiação: o que eu poderia fazer de diferente estando filiado? O que eu não poderia mais fazer?</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Vários questionamentos foram se desdobrando, mas a minha percepção de classe, tão forte desde o ensino médio, indicava duas tendências:</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">1 – Permanecer independente e construindo agendas estando fora do aparato partidário, buscando pessoas legitimamente eleitas ou filiadas a partidos, inclusive nas eleições institucionais das universidades, para levarmos as pautas adiante;</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">2 – Filiar-me ao PDT, o único partido que aceitou todos os convites que havíamos feito para tratar dos assuntos importantes para o país, desde as eleições até um projeto específico sobre cidades inteligentes.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Me mantive na primeira tendência até o fim das eleições de 2022, com o coração apertado por estar vendo o Brasil voltar a ter que escolher entre dois representantes de um mesmo modelo de governança política fisiológica e de um mesmo modelo econômico, mas com comportamentos completamente distintos no âmbito da institucionalidade. Me entristeceu também ver uma figura política tão querida quanto o Ciro Gomes, em quem votei e fiz campanha em 2018 e 2022, tentar simular uma comunicação mais violenta e adjetivadora, a fim de buscar públicos que estavam em movimentos pendulares entre duas figuras que já haviam estado no cargo de Presidente da República e que, portanto, tinham </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">recall</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Essa estratégia não era necessária do ponto de vista do conteúdo, mas sim da capacidade de produzir alcance e engajamento nos algoritmos.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O segundo turno de 2022 fez com que eu enterrasse de vez a ideia de me filiar ao partido. O racha da militância tornou-se bastante violento, impulsionado pelo ressentimento genuíno de quem escutou nos últimos anos os discursos críticos às práticas do Partido dos Trabalhadores em busca da consolidação de uma hegemonia no campo progressista. O PDT resolveu entrar na campanha de Lula com mensagens truncadas. Uma hora era um apoio crítico e condicionado, noutra era um apoio irrestrito e sem exigências. Sendo que, desde 2018, o discurso era no sentido de que todos os barcos haviam sido queimados. E no meio disso tudo, o tratamento que alguns filiados davam aos eleitores engajados, a suas críticas e questionamentos era “filie-se primeiro, depois venha falar sobre o que o partido deveria ou não fazer”.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Entendo essa lógica: um partido é uma instituição que tem forma e conteúdo. Tem dinâmicas internas, hierarquias e processos. E tem disputas, muitas disputas. Parte dos filiados pede que outros sujeitos, que não vivem “da” ou “para a” política, entrem nas estruturas dos partidos a fim de juntarem forças para fazerem reformas internas e mudarem paradigmas. Isso faria parte de uma noção de democracia interna, que está ligada à ética da responsabilidade, mas que quer alavancar valores e convicções que esses filiados consideram nobres. Esse processo, no entanto, parece bem lento e engessado, principalmente quando se enxerga com os olhos de quem está do lado de fora.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas vejo questões graves nesse raciocínio: se a pessoa que está fora do partido lê ou escuta de outra que está lá dentro que precisa de ajuda para mudança interna, principalmente quando essa pessoa tem certa relevância no contexto comunicacional desse partido com o público, qual será a mensagem recebida? Aquela pessoa que está há muito mais tempo lá dentro e tem alguma relevância não consegue, então por que e como um novo filiado conseguiria ajudar na reforma de alguma maneira?</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O fim das eleições trouxe ainda a entrada do PDT no novo governo de Lula, o afastamento de Ciro Gomes da vida pública e um acirramento das disputas pelas versões e pelos espólios das eleições de 2022. Nas mídias sociais, cujos algoritmos beneficiam as polêmicas e os desafetos, a tolerância com o pensamento discordante está em tendência negativa.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Do fim das eleições até a semana do Carnaval, grupos que fizeram campanha ostensiva em favor do Lula e que apoiaram a entrada irrestrita do PDT no novo governo começaram a fazer execração pública de figuras ligadas à campanha do Ciro em 2022. Fazem isso contra pessoas que têm pensamentos de caráter menos progressista e mais ao centro, mas que adotaram o PDT como partido por entenderem ser esse um espaço democrático em que suas ideias teriam alguma ressonância histórica e capacidade de diálogo.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Dois exemplos desses últimos quadros são Aldo Rebelo e Robinson Farinazzo, que são acusados por parte da militância de serem simpatizantes de um grupo extremista chamado Nova Resistência (NR), movimento que supostamente teria integrantes filiados ao partido. As alegações são formuladas com base em fotos em que os dois aparecem juntamente de supostos membros desse movimento. Aldo e Farinazzo negam qualquer vínculo ou simpatia.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A mais recente polêmica foi trazida à esfera pública após um militante de MG ter deletado num grupo de WhatsApp o vídeo de uma entrevista que Farinazzo deu ao canal Brasil Paralelo, conhecido por produzir conteúdos para o público de extrema-direita. No vídeo, Farinazzo comenta sobre a importância do nacionalismo na construção e manutenção da soberania de um país, considerando um contexto de geopolítica em contraponto à visão globalista. O conteúdo da fala não ensejou a ação, mas sim onde ela aconteceu. Após haver reclamação pública por parte dos que se sentiram censurados, o militante os removeu do grupo e começou a fazer publicações desabonadoras com relação a essas pessoas e quem defendesse o direito deles de questionar aquela atitude.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Se em 2019 me senti traído e ressentido pelo posicionamento de Tábata Amaral com relação à Reforma da Previdência e a outras votações, hoje entendo que aquela sensação tinha a ver com a minha convicção quanto à democracia enquanto regime de participação plena do cidadão e de todos os envolvidos nos processos decisórios na escolha de como agir. Algo próximo da ética comunicacional de Habermas: para que algo possa se estabelecer como verdade contextualizada, é necessário que todos os envolvidos partamos dos mesmos pressupostos de possibilidade de conhecimento.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Tábata falava que havia estudado e passado pelos diálogos internos de movimentos como o Acredito para tomar as suas decisões. Mas o fato é que não sabíamos, nos grupos do movimento, como ela votaria naquelas matérias até que ela tivesse, de fato, votado, e nos digladiávamos, enquanto isso não acontecia, dentro de nossas discordâncias. Não havia esse contato direto da representante eleita no processo político decisório com a base do movimento, quem dirá com o eleitorado.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em resumo: o dilema da filiação é um falso dilema. O que há, na verdade, são um Dilema de Hermes e um dilema da democracia. O Dilema de Hermes acontece quando a linguagem dos deuses precisa chegar aos mortais e vice-versa. Quem fazia isso na mitologia grega era Hermes, mensageiro dos deuses. Daí vem o termo hermenêutica, que está relacionado ao saber da interpretação, de tornar familiar aquilo que é estranho. Partidos como o PDT, dentre outros do campo progressista, parecem estar vivendo um momento crítico por não conseguirem estabelecer uma comunicação com a ética das convicções, aquela que é natural ao eleitorado, e por não estarem abertos a (re)aprendê-la. A linguagem que articula o mundo desses partidos é a da ética da responsabilidade e querem exportá-la para as massas.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Esse trabalho é contraproducente e gera o segundo dilema, que seria o da democracia: as pessoas que não têm a política como vocação passam a sentir que não existem nessas instituições políticas canais de escuta e ressonância, mas de palanques e panelinhas. Clubismos pouco acessíveis e que demandam muito do escasso tempo que resta às pessoas que não vivem “da” e “para” a política. Pessoas como eu, um pesquisador; minha mãe, servidora pública e profissional liberal; ou muitos outros exemplos de gente que gostaria de contribuir com ideias, projetos e iniciativas, mas que não tem interesse em ocupar especificamente espaços partidários ou eleitorais.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É preciso profissionalizar a política novamente. E é preciso que essa profissionalização passe a reconsiderar internamente os sentidos possíveis de uma democracia no contexto comunicacional do século XXI. Os partidos do campo progressista patinam em gelo, se chocando e se xingando, inclusive internamente, enquanto fazem buracos nesse lago congelado que logo engolirá a todos nós. Estamos prestes a ver o fim de mais uma era política no Brasil: o personagem Lula, em breve, estará apenas na memória. O que teremos a oferecer aos nossos irmãos e irmãs além de convites de filiação para que os partidos continuem a existir?</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Referências</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">CANEVACCI, Massimo. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A Cidade Polifônica: </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ensaio sobre a Antropologia da Comunicação Urbana. 2. ed.. São Paulo: Studio Nobel, 2004.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Reviravolta linguístico-pragmática na filosofia contemporânea</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. 4.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2839972727272726; margin-bottom: 8pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">WEBER, Max. A política como vocação (1918). In </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ciência e Política: Duas Vocações. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 11.5pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2010.</span></p>Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-84020067419238189072021-12-07T20:25:00.003-08:002021-12-07T20:32:14.701-08:00Temporada dos cachos<p style="text-align: justify;">Queridas pessoas leitoras, tive vontade de retomar a escrita neste espaço público de monólogo por força da gravidade da crise existencial que venho enfrentando, algo pelo qual cada uma de vocês deve estar igualmente passando graças aos nossos dois anos de pandemia. Essa não é a primeira, nem imagino que seja a última. Mas acho que daqui para frente a forma como lidarei com elas será bem diferente por um motivo inusitado: agora eu tenho meus cachos.</p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/9BdCmigxxAM" width="320" youtube-src-id="9BdCmigxxAM"></iframe></div><p style="text-align: justify;">Na real, ter ou não ter cachos nos cabelos não é o detalhe marcante. Nem todo mundo que tem cachos entenderia muito bem o sentimento que vem me atingindo nesses últimos quase dois anos. Quase dois anos de reclusão, um treinamento intensivo para não regredir a uma forma de existir anterior que me colocava num lugar menos autêntico (e menos autônomo), combinado com sequelas de uma doença pouco conhecida e de outras seculares, como a solidão em meio aos muitos contatos, a ansiedade do panóptico social digital, e o vício entorpecente em métricas de produtividade, interações e consumo. Ver meus cachos de volta, no entanto, me ensinou um pouco sobre alguns feitiços do tempo.</p><p style="text-align: justify;">Sobre isso, inclusive, me recordo que havia escolhido dar um tempo na escrita desse tipo de texto porque já estava me sentindo esgotado pelos excessos da vida acadêmica de um pós-graduando médio. Não estou dizendo que eu seja médio ou medíocre, à escolha do intérprete, mas que a média da vida acadêmica que se vive no Brasil é de produção exaustiva de coisas escritas e leituras deprimentes. Durante a pandemia, os sentimentos pesados se multiplicaram com a distância maior dos afetos amistosos, românticos, libidinosos e profissionais. As trocas de sentidos (físicos e semânticos) diminuíram drasticamente. As válvulas de escape tornaram-se cada vez mais digitais e mediadas por vidros com cores. Mas mesmo vidros com cores apenas enfeitam a nossa miserável condição desumana das distâncias que (só) parecem superáveis em instantes. Só que cachos não crescem em instantes. <br /></p><p style="text-align: justify;">Nesses praticamente dois anos de reclusão, vi pessoas se casando, se separando, mudando de emprego e/ou perdendo tudo. Gente mudando de país, com o valor do real profundo como o pré-sal, e até voltando para o Brasil no meio desse inferno que virou o nosso cotidiano. Eu vi gente mudando emagrecendo e gente engordando num piscar de olhos. Teve também quem eu deixei de ver, inclusive pelos vidros com cores. Ainda assim, o que mais me impressionou foi como as pessoas mudaram seus cabelos. Cabelos grandes, cabelos médios, até uns cortes mais curtos (alguns na máquina 0) deu para encontrar pelas fotos e vídeos, geralmente nos arquétipos inversos do que era comum antes da pandemia. E também era frequente alguma explicação para aquela mudança, além do natural passar do tempo e crescer dos fios.</p><p style="text-align: justify;">Mas cabelo, por mais que se possa comprar e implantar, demanda tempo pra crescer. Geralmente o cabelo tem o poder de surpreender: no processo de crescer, tem dias que ele acorda mais feio ou mais bonito, mais armado ou mais maleável, às vezes troca de forma, quebra, cai ou até muda de cor. O meu mesmo demorou quase 26 anos para cachear de novo. De outras vezes que deixei crescer eu disse que queria saber de onde eu tinha vindo, numa alusão ao que o meu professor Erahsto havia comentado em sala de aula, mas os cachos não voltavam a aparecer. Só no meio da pandemia isso aconteceu e agora vivo o dilema se os quero livres e grandes ou se prefiro podá-los para manter algum controle estético.<br /></p><p style="text-align: justify;">Esse mesmo dilema aparece muitas vezes em outras situações da vida: discussões políticas e eleitorais que fazem parecer que vamos eleger alguém amanhã, geralmente por motivos cosméticos ou desesperados; discussões tribais sobre artistas, carreiras e outros assuntos que alteram pouco na experiência de vida local, mas que dão sentido de pertencimento a quem se propõe a fazê-las; relações amorosas mediadas por longas distâncias, com promessas de amor suspensas pelo tempo da peste, limites e barganhas estabelecidos pela falta de contato físico. Em todos esses momentos há um pouco de pressa para se pular etapas, desistir, imaginar o fim do mundo, passar raiva e até se apaixonar. Mas eu andei aprendendo com os meus cachos a ter um pouco mais de calma e a relaxar.</p><p style="text-align: justify;">Estou aqui com o cabelo macio como nunca tive, sem ter as mãos de outro alguém que eu queria que pegasse nele para experimentar um pouco desse crescimento que nós desenvolvemos juntos ao longo desses últimos anos. Pra falar sobre quantos fios caíram depois que a COVID-19 entrou na minha casa e quantas memórias se foram com eles no processo de recuperação das sequelas. Estou ficando de frente à minha imagem num espelho pequeno (e dos vidros coloridos que repetem o que os olhos eletrônicos veem), observando dia a dia os formatos que vão surgindo, sem perceber muitas mudanças, ao mesmo tempo que levo sustos com as diferenças relacionadas a momentos mais distantes.</p><p style="text-align: justify;">É uma temporada bem mais lenta, a temporada dos cachos. Cheia de curvas, quedas de cabelo e entradas nunca antes vistas. Mas é também uma temporada de revisitar afetos, memórias e de experimentar novos volumes, texturas e comprimentos. Que a gente possa crescer juntos e aproveitar bem cada fase que a gente vence, sem ceder ao "surto da máquina zero" ou ao oblívio do isolamento. <br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/08Ndzf5-HxI" width="320" youtube-src-id="08Ndzf5-HxI"></iframe></div><br /><br /><p></p>Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-62455712613846140742020-07-21T14:16:00.008-07:002020-07-21T18:41:57.786-07:00A pandemia, o novo normal no senso comum e a estafa<div class="separator"><div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><div style="text-align: justify;">Hoje é dia 21 de julho de 2020. <br /></div><br />Desde o dia 16 de março deste mesmo ano sinto os efeitos graves da doença pandêmica sobre o meu espírito. Apenas uma semana e um dia foi o tempo que tive para estar sozinho, me recondicionar à minha casa - ao meu recanto de intimidade, de memórias e rotinas só minhas. O meu lugar de ser o adulto livre, responsável e autônomo que acostumei a ser em 7 anos fora da casa dos meus pais. O ano mal havia começado e as incertezas, velhas-novas presenças cotidianas, já tentavam fazer bagunça no meu lar. A principal delas era a financeira-profissional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><img alt="É tarde! É tarde!...: entenda a Síndrome da Pressa" height="420" src="https://www.contioutra.com/content/uploads/2016/02/unnamed1.jpg" width="560" /></div></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">No dia 16 de março que minha universidade anunciou que estaria suspendendo todas as atividades acadêmicas presenciais por tempo indeterminado e que fechariam o Restaurante Universitário naquela mesma semana. A recomendação era de que todos fossem para as casas de suas famílias o quanto antes. Na semana anterior, eu havia chegado para organizar meu período letivo e como seria desenvolvida minha pesquisa nos meses seguintes. Era a primeira vez desde 2016 que eu havia conseguido traçar e fazer funcionar um planejamento de pequenas coisas logo na chegada da longa viagem de 800 km que sempre faço até Viçosa. Passo a passo feito de forma tranquila e que me possibilitou uma sensação de descanso ao fim dos dias. Tudo isso acabou na fatídica tarde do dia 16 de março, quando minha intuição me recomendou olhar a caixa de e-mails antes de lavar minhas poucas roupas sujas.<br /><br />O sentimento principal ao voltar para a Bahia foi de frustração. Este é, pela lógica até o momento, meu último ano naquela cidade e naquela Universidade. Pelo menos como estudante. Faço um mestrado fora da minha área de graduação, mas que tem tudo a ver com quem sou e com o que me interesso. Fui acolhido dessa forma e soube articular as possibilidades que a sorte me sorriu de forma que os interesses se encontrassem, mesmo que fosse necessário negociá-los por um tempo ou mudar a forma de apresentá-los. Era ali que estava me encontrando e me reencantando, não só como acadêmico, mas como um sujeito com existência, quereres e nuances próprias. De ter uma vivência para além da sombra e da rotina do coletivo da família. Tantos eram os planos e possibilidades para viver os novos dias que estavam sendo desenhados. Não mais que de repente, estaria, em menos de duas semanas, voltando para o lugar onde me sinto menos que aquilo e me perco numa realidade paralela de um estágio anterior de mim.<br /><br />Eu já tentei antes fazer minhas atividades acadêmicas e profissionais dentro da casa dos meus pais. Não foi fácil. Na verdade, não me lembro de conseguir concluí-las de forma satisfatória por aqui. É difícil me reacostumar com o barulho, com a movimentação, com a rotina alheia e os papeis de hierarquia que foram construídos, inclusive a hierarquia que não é mais dita, mas que pressiona: a hierarquia das formas de trabalho e do sustento. Posso ser a pessoa que mais passa horas líquidas fazendo uso de massa cinzenta e força física nas atividades cotidianas, se não trago dinheiro para dentro de casa, não me coloco como sujeito no mesmo patamar que os outros. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esse sentimento constante às vezes é racionalizado e compreendido pelo consciente, que consegue perceber que o momento é de recolhimento, que não há emprego, que a etapa do agora é terminar a pós, fazer algumas concessões e se permitir estar um pouco menos preocupado com algumas questões relacionadas a dinheiro, produtividade, qualidade, status e planejamento futuro para além do dia seguinte. Mas segue sendo difícil, penoso, chega a doer.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As notícias que assisto são ainda piores. Falsas doses de pensamento positivo, como nas manchetes sobre os estudos relacionados à vacina, somadas ao nojento contexto político e econômico do país. Nenhuma janela de perspectiva para quem é mais jovem, como eu. Os empregos cada vez mais raros e cada vez mais caros, uma vez que trocamos tempo e qualidade de vida por dinheiro. Os relacionamentos cada vez mais distantes e mais inflamados, mais difíceis de lidar pela falta dos sentidos físicos que nos tornam seres empáticos. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não há empatia na razão pura. Não há sentimento sem a possibilidade da sensação física. Afirmo isso pelo fato de que nem a voz dos meus amigos e das minhas amigas tem sido possível ser escutada. Nem seu choro, nem suas risadas. Salvo os parentes mais próximos, a troca afetiva tem sido negada a todos e a todas que, por uma etiqueta bem recente, deixaram de lado costumes como ligar para pessoas queridas quando se sente saudade, por medo de achar incômodo, ou pela rotina exaustiva de tentar produzir em casa, um ambiente que, antes, era santuário do descanso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por isso não acredito nessa conversa de "novo normal", de que terei que me acostumar com o afastamento entre os corpos e espíritos mesmo depois que o estado de pandemia tiver sido vencido. Não assumo isso como normal porque não é. Não me sinto um ser virtual com etiquetas à prova de contato. Não sinto que trabalhar em casa seja uma boa moda. Me preocupam as alienações de sentidos, sejam eles físicos ou simbólicos. E acredito que boa parte da população também não deve manter esses padrões, como já não vem mantendo, seja no Brasil, seja no resto do mundo onde já houve algum controle do ciclo da doença. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As narrativas sobre um "novo normal" não se sustentam fora do senso comum de um contexto de medo massivamente midiatizado e de uma cultura da instantaneidade, do imediato, da rapidez, do efêmero e do fluido. Não quero dizer com isso que não há gravidade na pandemia ou necessidade de refletirmos sobre mudanças na forma como vivemos, mas sim que algumas mudanças devem ser percebidas em seu momento e refletidas até quando elas farão sentido. De lembrar que aquilo que é passageiro ou provisório não tem caráter definitivo, mesmo que assim pareça no instante em que vivemos.<br /><br />Refletir sobre tudo isso ao mesmo tempo em que os prazos não são suspensos pode ser estafante. Como não sou uma máquina, apesar de já ter refletido sobre essa possibilidade algumas vezes, sinto dores físicas, que só aumentam com a chegada do frio e o agravamento da minha fibromialgia. Chego à exaustão da mente pensando formas de manter minha produtividade, quando nem mesmo as fábricas mantiveram suas máquinas funcionando plenamente. E quase sempre não perdoo meu espírito por estar buscando outras maneiras de viver este momento de aprendizado, quando todos os prazos do mundo exterior seguem constantes e agindo como o Coelho Branco de Alice, gritando a todos os ventos "estou atrasado!", mesmo que o sentido do tempo tenha se perdido juntamente com todos os outros sentidos que a pandemia afastou de nós.<br /><br />Hoje é dia 21 de julho de 2020. O que isso quer dizer, eu realmente não sei. Sei que disse aquilo que queria, e isso me fez bem.<br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/aPVjrB-QvJ4" width="400" youtube-src-id="aPVjrB-QvJ4"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br /></div></div>Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-54633359164588526142018-11-28T06:29:00.000-08:002018-11-28T06:44:57.744-08:00Parede na sala de estar<div style="text-align: justify;">
É um ditado popular: "se as paredes falassem...". E nada mais é dito. Assim como as paredes não falam, não se fala mais nisso. Os assuntos cessam quando os ditados entram. As paredes estão cheias de histórias, mas muros e murais estão entupidos de ditados.</div>
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A parede da minha sala de estar já ouviu e viu mais momentos de amor, de afeto, de sentimentos em rompante e de dores desconfortantes do que muros e murais jamais poderiam anunciar com tamanha verdade. É uma sala de estar. No inglês, também seria uma sala de ser. Combinação linda que é o verbo "to be", não é mesmo? E a sala se tornaria uma "living room". As paredes teriam vida também, já que a vida não conhece barreiras, nem mesmo na morte.</div>
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Os muros e murais de alguém estão aí para garantir proteção. Muros e murais virtuais servem para a mesma coisa. As mensagens estampadas neles servem apenas para o lado externo. Grande parte das vezes não foram as pessoas que construíram essas barreiras que colocaram essas mensagens por lá. Às vezes apenas alguém passou por ali para vandalizar ou para tentar dar um toque mais artístico no que até então só servia para proteger contra o que vem de fora.</div>
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As paredes não são assim. Paredes compartimentam cômodos e convivem diretamente com a vida da casa e de quem nela habita. Se uma parede for pintada, rabiscada, ficar suja ou receber um quadro, de dentro pra fora ou de fora para dentro, ela está ali para isso. Paredes podem até proteger, mas foram feitas para sustentar e compartimentar cômodos e dar abrigo a quem procura um lar. Paredes têm marcas de vida e de afeto. Muros e murais costumam servir apenas como medidas de afastamento e segurança, sendo algumas vezes decorados do lado de fora para dar um charme, quando se tem recursos para isso.
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdnE0WbGgMmmg0rMcB_GicTIDTqXCJI5zH-dvg2Vj1f8lYy89KT7bZ1v2QoTXBnbxkbxB_6ZW4KQQ2RCcvjJ710WNsEPGc7Co3ZVVVADe3_Z1vPJ-Llc014bPLKPX-gqC51s1akjLjNXY/s1600/sala-de-estar-tijolo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="800" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdnE0WbGgMmmg0rMcB_GicTIDTqXCJI5zH-dvg2Vj1f8lYy89KT7bZ1v2QoTXBnbxkbxB_6ZW4KQQ2RCcvjJ710WNsEPGc7Co3ZVVVADe3_Z1vPJ-Llc014bPLKPX-gqC51s1akjLjNXY/s400/sala-de-estar-tijolo.jpg" width="400" /></a></div>
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Muros e murais podem ser substituídos por grades. Se isso for feito, pouco se diferencia de seu sentido de prisão, exceto pelo fato de que se pode ver um pouco mais do que há lá dentro. Algumas paredes, por outro lado, possuem portas e janelas. O sol e o ar podem entrar por elas, assim como pessoas, bichos e a chuva, que inspiram sensações mais complexas do que medo, segurança ou curiosidade.</div>
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Se as paredes falassem, provavelmente não se limitariam aos ditados. Não se limitariam a frases de efeito porque vivem e sabem, por dentro e por fora, mais do que isso. Paredes não vêm no singular. Elas estão juntas porque assim podem acolher. Porque muros e murais, sozinhos, coitados, não sustentam nem um teto.</div>
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As paredes podem até ser mudas, mas é dentro delas que estamos vivendo. Às vezes elas até deixam escapar alguma coisinha para os nossos vizinhos. Muros e murais são dispensáveis se suas paredes forem de lugar de estar. De ser. E de viver. Eu adentrei a sua casa. Você adentrou a minha. Dispenso seus muros e seus murais frondosos. Prefiro as minhas paredes sujinhas e fresquinhas.</div>
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<iframe allow="accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/6QKRAL-hHGw" width="560"></iframe>
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<br />Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-59194183529015178662018-06-16T07:23:00.002-07:002022-09-02T20:39:02.151-07:00Martírio<div style="text-align: justify;">
Foi em 2012 quando publiquei um texto chamado "A arte de andar nas ruas (até 01 de janeiro)". Com um título inspirado na obra "A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro", de Rubem Fonseca, demonstrei como era ruim andar pela cidade em época de eleições. Há seis anos, o que me incomodava eram os cavaletes nas calçadas, a hipocrisia dos candidatos que diziam querer cuidar da cidade e a quantidade imensa de papéis (de trouxa) que os mesmos jogavam no meio das ruas. Parece que, depois de adulto, mas nem tão mais velho, os incômodos tornaram-se medos.<br />
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Não faz muito tempo, eu tinha uma paixão enorme pela atividade política. Abraçava o prefeito da minha cidade como se fosse meu amigo (já que tinha por ele um afeto de conhecido da minha mãe), participava de programas da rádio dele, tirava fotos e tudo mais. Pouco tempo depois, esse mesmo senhor terminou seu mandato com vários processos nas costas e não quis (ou não pôde) mais se candidatar a nenhum cargo na gestão pública. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Para uma criança inocente, era inconcebível que aquela pessoa tivesse feito algum mal. Seus sucessores, ou sucessor, no caso, era uma pessoa que não parecia tão carismática e acolhedora para com o povo quanto ele. Era um senhor que já me fazia não gostar tanto assim daquele meio. Mas é incrível a capacidade desse senhor de ganhar votos. Hoje ele está em seu terceiro mandato como prefeito, enquanto o prefeito anterior nunca mais concorreu a eleição nenhuma.</div>
<br />
Nesse meio tempo, a minha atuação política foi florescendo e recebendo nuances distintas em cada estação. No ensino médio, quando entrei na parte mais rebelde da adolescência, conheci o movimento estudantil e as representações discentes. Foi ali que tive minhas primeiras experiências em cargos representativos e que, em 2010, conquistamos as primeiras eleições presidenciais simuladas, numa campanha pautada por um projeto de nação muito bem amarrado e didaticamente explicado. A política, para mim, não poderia ser feita de outra forma como aquela que fizemos e que alcançou o primeiro lugar: ela anseia pela democracia como a democracia anseia por ela.<br />
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Isso durou muito pouco. Quando a situação apertou na instituição, com as eleições internas para a direção do Campus, eu vi a política sendo feita na sua outra face: "xoxa, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente". Um dos lados buscava cooptar os partidários do outro oferecendo benefícios e simpatia. Quando percebia que essa estratégia não funcionaria, passava a utilizar de ameaças para calar os opositores da situação. Não houve vitória de um projeto de instituição educacional. Não havia qualquer coisa além da manutenção de um grupo de poder. Isso foi, aos poucos, destruindo quaisquer alternativas de lideranças e, quando chegou ao fim a possibilidade de manter o ciclo, só restava o discurso único. Ninguém mais queria ocupar os espaços de poder, a não ser os pequenos aliados daquele mesmo grupo.<br />
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Eu mesmo fui perseguido nessa cruzada. Deixei de militar no movimento estudantil depois de ter sido ameaçado, seja pelas fofocas nos corredores ou pela própria pessoa que tentou me cooptar pela simpatia anteriormente, de ter uma comissão de sindicância aberta contra mim sem que houvesse qualquer desabono de minha parte. Havia, porém, um álibi forjado. Buscaram fundo uma condição para que eu pudesse ser censurado, mesmo no meu último ano do ensino médio. E foi assim que eu deixei de atuar diretamente nas ações coletivas.<br />
<br />
Depois de 2012, o país adentrou um novo ciclo estranho no campo da representação política e das manifestações. Antes, os protestos tinham cara, cor e até mesmo partido, era claro quem estava por trás de cada movimento, a face de suas lideranças. Cada uma delas carregava consigo pelo menos uma bandeira progressista bem elaborada e consistente. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">De 2013 em diante, as manifestações tornaram-se difusas. Parecia que estava vendo o filme que se arrastaria até os dias de hoje: pessoas que nunca saíram de suas casas para apoiarem os protestos dos professores da minha cidade ou de outras, de repente começam a ir às ruas pedindo mais educação - as mesmas pessoas que reforçavam que estudantes e professores eram vagabundos por fazerem greve e mobilização por essa bandeira. Mas ali não havia uma liderança sequer. Não havia uma bandeira que não fosse a verde, amarela, azul e branca. Era uma massa amorfa, com pedidos genéricos e abstratos, que não seriam aceitos por qualquer bom juiz que ainda exista no país. <br />
<br />
Estava vendo o discurso único tomar forma mais uma vez e já sabia, por experiência, que aquilo não era bom. Logo mais os espaços de poder estariam sendo disputados de novo, mas as pessoas que questionassem a situação seriam exaustivamente censuradas ou desencorajadas a tentar ocupá-los. E que, lenta ou rapidamente, as alternativas de liderança se esvaziariam e permaneceriam apenas os pequenos aliados da situação. Foi assim que, de 2013 em diante, nunca mais fui a uma manifestação de rua como participante, apenas como observador.<br />
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Weber me acertou com um soco na boca do estômago: eu já havia me desencantado. Mas até o desencanto tem seu lado bom: isso me permitiu crescer e olhar de outra forma o jogo político e as formas como tem sido construída e destruída a nossa frágil República. O desencanto permitiu também que eu pudesse me reencantar em outras frentes, vivenciar boas práticas e abrir os olhos para as possibilidades, sem a magia do dogma ou as correntes inconscientes da coletividade. O pensamento e o sentimento passaram a dar um pouco mais as mãos, para que não "negasse as aparências", nem "disfarçasse as evidências". A minha paixão pela política e pela democracia voltou, mas com outra forma, outras cores e outros cheiros.<br />
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Se o caso Marielle Franco já tem mais de 3 (três) meses sem solução, foi por causa dele que resolvi escrever este texto, que também fazia 3 meses que estava engavetado. Às vezes é difícil conceber tamanho martírio. A pessoa se envolve na luta para tentar ocupar o espaço de poder e impedir que o discurso único assalte a nação e, não mais que de repente, é o discurso único que assalta sua vida e a sua presença de todos aqueles que te amam e te consideram. E não se consegue alento para tamanha perda. Morrer por uma ou várias causas. Por ter paixão, acreditar no jogo democrático e ser assombrosamente silenciada "como exemplo".<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi56vHrCIklaLgES8MIMO9fheXkEs2AizwNr4hdXLZi0oUxNliVCw-65LuUPHHRCkYC78k2HCKsOvro57pHbAbFM5VEZoT1EqVe1FkpvQs4N7dMvHkGXXuKc8r6lV8Hj1eVdS6sT10YY_4/s1600/marielle.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="315" data-original-width="630" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi56vHrCIklaLgES8MIMO9fheXkEs2AizwNr4hdXLZi0oUxNliVCw-65LuUPHHRCkYC78k2HCKsOvro57pHbAbFM5VEZoT1EqVe1FkpvQs4N7dMvHkGXXuKc8r6lV8Hj1eVdS6sT10YY_4/s400/marielle.jpg" width="400" /> </a></div>
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<br /></div>
Pensar nisso me deixa covarde, como já fui no final do meu ensino médio. Esse medo me paralisa e me faz querer sair correndo dos holofotes. Me ater aos bastidores. Mas isso não quer dizer que, ao fazer isso, eu não possa colaborar com quem tenha mais coragem do que eu. Até porque isso pode mostrar para outros tantos, inclusive para mim, que é possível combater o discurso único. Que é possível recuperar a democracia. Que é possível fazer política sem ser líder. Que é possível e eu já o fiz.<br />
<br />
Os golpes fazem doer. Alguns fazem até sangrar. Mas não são todos que nos fazem morrer. Para além das paredes do discurso único há um vasto campo de possibilidades. É tempo de curar, mas também é tempo de refletir, de planejar e, principalmente, é tempo de reencantar.<br />
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<br /></div>
</div>
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/4syrZTW2aiI" width="560"></iframe></div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-36674569231237800482017-11-26T10:15:00.001-08:002017-11-26T10:19:22.985-08:00Um último encontro<div style="text-align: justify;">
O dia de se encontrar com pessoas especiais deixa a gente inquieto, se programando sem parar. A expectativa era enorme para aquele momento: já fazia meses desde a última vez que tivemos um tempo juntos e a saudade apertava o peito com força. Não era preciso muito para que fosse especial, bastava apenas a presença, o afeto, até mesmo o silêncio seria prazeroso.<br />
</div><br />
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O último encontro havia sido mágico, mas não tão íntimo. Havia elementos externos que estavam afetando o momento. Foram muitas risadas gostosas, conversas bacanas e sentimentos trocados entre olhares e gestos de afeto, alguns discretos, outros nem tanto. Eu sabia que não duraria para sempre, então já queria o próximo. "Vê se não me ignora", disse com a inocência desesperada de uma criança carente e sozinha.</div>
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<br /></div>
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E daí pra frente parecia que tudo tinha sido dito ao contrário. Aquele havia sido o último de alguns encontros contados nos dedos, todos ligeiros como reuniões ou cafés entre executivos. Profissionais. Extremamente profissionais. De quem não havia prometido nada, nada além de um Dia Branco. "Se branco ele for; o sol, se o sol sair; a chuva, se a chuva cair". Não se promete nada, mas a confiança fica ali, "se você quiser e vier, pro que der e vier, comigo".</div>
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<br /></div>
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Uma mensagem havia surgido, logo quando já estava desistindo de insistir. Desisti de desistir assim que li o trecho que dizia assim: "(...) me perdoa se parecer que tô fugindo, mas não tô (...)". Meu coração apertou e pediu mais uma chance para a razão. Ela concordou, mas pediu um tempo antes de se abrir para a ideia.</div>
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<br /></div>
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Aquela sensação foi sendo amaciada pelas pancadas que a vida dava, como um pedaço de carne que sangra ao ser martelado até ficar engolível. E tantas eram as evidências da razão que o coração aos poucos se rendia, mas a promessa permanecia: existiria um último encontro.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O turbilhão passou. A poeira do cansaço e da dúvida ainda pairava no ar. Mas a criança interior não se contenta com a espera: ela corre atrás e pede o que quer. Fala o que sente, mas só as partes que lhe interessam, pelo medo de acabar perdendo aquilo que tanto esperou conseguir. E foi assim que, mensagem após mensagem, uma data foi marcada.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A expectativa era enorme. Mal conseguia me segurar, continuava falando e pensando sobre aquilo o tempo inteiro. Forçava contato, como se ajudasse a fazer o tempo andar mais rápido. Mas o tempo tem seu ritmo próprio e não tem outra forma de caminhar a não ser no seu passo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fim de semana da outra semana. Todo o resto não importava. Num desses dois dias estaria de volta ao paraíso, mesmo que por alguns instantes. Parecia um sonho. E o tempo ajudou.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chegou o momento. O contato foi feito. O dia amanheceu, a noite caiu. O céu nublou, o sol ressurgiu. O sorriso chegou. O sono bateu. O sonho... Sonho... O olho se abriu. E o último encontro havia acontecido.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" gesture="media" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/kC3m1t-aws8" width="560"></iframe>
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-74064218497448787952017-09-25T16:18:00.000-07:002017-09-25T16:18:03.730-07:00A gente chega sozinho...<div style="text-align: justify;">
Neste mês de maio completei exatos 4 anos desde que saí da casa dos meus pais e vim parar nessa cidade chamada Viçosa (mais conhecida pelos estudantes que aqui habitam como 'Viciosa'), localizada numa coordenada geográfica que, se olhasse apenas pelo mapa, seria bem perto de tudo, mas fica tão distante e inacessível que mais me lembra o 'El Dorado'.</div>
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<br /></div>
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Para chegar até aqui, preciso sempre percorrer um longo caminho. De ônibus, quando menos atrasa, demora em torno de 18 horas. Quando dou a sorte de achar promoção de passagem aérea, acabo indo até Belo Horizonte, levando por volta de 7 a 8 horas até avistar o supermercado Bahamas, confirmando que finalmente cheguei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Para praticamente todos com quem converso, essa viagem parece muito cansativa e dizem que não se submeteriam a isso com a mesma facilidade que eu aparento ter. O que muita gente não sabe é que não é fácil. Não tem um dia que não penso na minha casa perto do litoral, em como lá tem brisa e ruas mais largas, e que é possível ver o céu azul e as estrelas sem fazer muito esforço, porque a verticalização não atingiu o espaço urbano de lá.</div>
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<br /></div>
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A verdade é que a gente chega sozinho aqui. E continua. Cada um de nós, sozinhos nas nossas experiências, nas nossas angústias, nas nossas saudades... Mas também é verdade que chegamos e continuamos sozinhos em momentos de conquista, de comemoração e de pequenos prazeres diários.</div>
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<br /></div>
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É com o tempo que começamos a conhecer e nos aproximar de outras pessoas que também chegaram sozinhas, mas que continuarão sozinhas como cada um de nós. Bem semelhante ao meu longo caminho de ônibus para chegar geograficamente até aqui: vem conhecendo novos lugares que te impressionam com a beleza, a miséria, te deixam entediado olhando pela janela ou que embalam trilhas sonoras e fotografias que ficarão guardadas no coração e na memória - existem rotas a seguir, internas e externas, para conhecer pessoas.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E cada pessoa passa a compartilhar essas rotas conosco, trocando experiências e saberes. Desentendimentos e prazeres. Amores e deveres. Desinteresse. Interesse mútuo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cheguei aqui sozinho e perdido. Claro, minha prima veio me ajudar com a mudança. Os amigos da minha mãe me acolheram como se fossem meus pais, tios e tias. Eu estava aqui, acolhido, protegido. Mas perdido e só. Apenas depois que entrei nas rotas é que comecei a me sentir menos perdido, ao mesmo tempo que me senti acompanhado e acompanhando.</div>
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<br /></div>
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Na primeira semana de aula, quando finalmente estava seguro para interagir com outros seres humanos, opinei na conversa de colegas que nunca tinha visto na vida e um deles me disse: "nossa, você fala. Achei que era autista." Foi um golpe brutal em quem já vinha lutando contra um bloqueio para relações pessoais e acabava de se mudar para um novo contexto cultural. Não demorou muito para que fosse possível ver a situação se transformando e, de certa forma, se invertendo.<br />
<br />
É uma questão de <i>feeling</i>. A gente realmente chega sozinho, continua sozinho, mas aprende a curtir toda a viagem. Aprende a fazer companhia. A saber quando a gente não quer mais ficar sozinho - ou como faz bem poder compartilhar um pouquinho da nossa existência com o outro. E também sabe a hora de se recolher para aproveitar a própria companhia.</div>
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<br /></div>
Não dá pra dizer que a viagem de volta para as minhas casas (sim, na Bahia e em Minas) seja a melhor viagem de todas, nem mesmo a que eu consigo descansar mais. Mas ela se tornou muito agradável, tão agradável que nem me preocupo com o tempo. Durmo, leio, dou risada, conheço gente nova, interajo com as crianças... O que for preciso para aproveitar o melhor que aquele momento pode me proporcionar. O momento do incômodo vem sempre antes de começar (às vezes uma semana antes). Mas é só embarcar pra logo pegar a onda. Sem olhar para trás. Só curtindo a viagem.<br />
<br />
<br />
Logo mais é hora de andar de novo. <br />
A ansiedade já bateu aqui. <br />
Espero conseguir arrumar as malas <br />
e que eu possa me despedir. <br />
<br />
É longa essa viagem<br />
mas é o que temos a seguir.<br />
Se não nos virmos, um até breve.<br />
Se der saudade, tô por aí!<br />
<br />
*Uma poesia do Saulo para fechar:<br />
<br />
A saudade, o amor e o sorriso<br />
O abraço, o infinito e a surpresa<br />
O pé, a pausa e a porta<br />
A ponte, o tempo e a pressa<br />
A gratidão, o mar e o profundo<br />
O pássaro, a flor e o eterno<br />
A reza, o sim e a sorte<br />
A beleza, o canto, e a cura<br />
O velho, o espírito e a voz<br />
A música, o servo e o instrumento<br />
O vento, a direção e o encontro<br />
A árvore, o livre e o chão<br />
A folha, o barulho e a terra<br />
O triz, o fio e o segundo<br />
O instante, a luz e o mistério<br />
O mundo, a menina e a fé<br />
O sereno, a paz e a alma<br />
A vida, a vida e a vida<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Un2X5m72ahA" width="560"></iframe><br /></div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-62001162524114083572017-08-09T19:15:00.006-07:002017-08-10T19:56:06.875-07:00Caminhos e ladrilhos<div style="text-align: justify;">
Escrevi este texto na minha cabeça enquanto caminhava pelo campus mais lindo do mundo, aproveitando cada instante, cada sensação, cada pequena onda que os filhotes de pato faziam na lagoa próxima do meu local favorito daqui, que é por onde passo quando meu coração pede calma e minha alma quer se aconchegar no som do silêncio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Comecei pouco depois de chegar na árvore que chamo de minha. Ela estava lá, frondosa, mas com menos folhas e galhos do que me lembrava. Prestei atenção nos caminhos que suas raízes faziam e como elas se conectavam com a terra e com as raízes de outras árvores. Como algumas partes delas estavam expostas. E ali, por onde uma delas passava, estava um caminho ladrilhado, no meio do matinho.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjrxZES9hVeqO8o7vRfZk0JhBdusULomZ5YjTEO3hnSOOhuakPoj4Kftp3N1xQEMsg9VP5LppOnyNifQ4LoqSK4DQvNrElanesLjvynug4SK2A90K41XKypshRzWHQa-mIonKmGvU_oeI/s1600/DSC01066.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjrxZES9hVeqO8o7vRfZk0JhBdusULomZ5YjTEO3hnSOOhuakPoj4Kftp3N1xQEMsg9VP5LppOnyNifQ4LoqSK4DQvNrElanesLjvynug4SK2A90K41XKypshRzWHQa-mIonKmGvU_oeI/s400/DSC01066.JPG" width="300" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Naquele exato momento me lembrei da professora Iacyr falando sobre os caminhos e os ladrilhos. Exatamente aqueles que estavam na minha frente! Ela disse uma vez que os costumes são como os caminhos e que as leis são como os ladrilhos: primeiro a gente abre a passagem por um lugar onde ninguém tinha passado, depois segue passando por lá até que, com o tempo, aquele caminho fica tão comum, tão convencional, que começam a ladrilhar para incentivar que a gente passe por lá, sem precisar abrir outros caminhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas não adianta: se o caminho ladrilhado deixar de ser tão eficiente quanto andar livremente em outra direção para chegar naquele mesmo lugar, logo outros caminhos serão abertos (e alguém vai mandar ladrilhar - não é a toa aquela musiquinha de ninar).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que importa aqui é a metáfora do caminho e dos ladrilhos: o caminho vem antes e não necessariamente se pensa quando ele está sendo feito. A GENTE VAI. Passa por cima da grama, das raízes, tem gente que sobe nas árvores e que até escala montanhas. Já pensou naquela galera que explorou pela primeira vez a incrível arte de fazer pontes? Essa galera teve que atravessar lagoa, rio, mar, precipício, enfim, teve que dar um jeito de fazer o caminho, ver o que tinha do outro lado e depois disso inventou de ladrilhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então primeiro a gente vai. Primeiro bota o pé no chão. A gente sente a terra, sente tudo que tem que sentir. Experimenta a sensação alucinante de desbravar algo, de quebrar regras, de passar por fora do caminho ladrilhado pelos outros. É a liberdade que não se compra, mas se paga caro pra manter. Todos os dias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com o tempo a gente pode até ladrilhar os nossos próprios caminhos do jeito que quiser. Vai que dá vontade de passar por ali de bicicleta ou de skate? É ao gosto do chef. Mas não se pode alienar seu direito (um grande poder/dever) de abrir e cuidar dos caminhos por onde vai passar. De fazer suas raízes se espalharem, se exporem e se conectarem para que possa crescer como a minha árvore. Para que tenha sempre, por onde quer que ande, aquela sensação de lar. Nem que precise quebrar alguns ladrilhos para isso.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/M2czFGyMipY" width="560"></iframe></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Retificando uma informação: a professora Iacyr me pediu para acrescentar que não foi ela quem comparou os caminhos e ladrilhos da UFV com os costumes e as leis, mas sim o Professor José Dionisio Ladeira, do Departamento de Letras. Ela apenas nos apresentou tal comparação em uma de suas aulas.</div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-47849793313062190862017-05-23T19:52:00.003-07:002017-05-23T19:59:06.628-07:00Mais elegantes no frio<div style="text-align: justify;">
Acabou o verão. De uma vez, todas as minhas "ites" vieram com o cair das folhas e da temperatura. Não consigo mais usar roupas leves e curtas. Dificilmente tenho condições de correr, algo que eu amo tanto. Minhas caminhadas vespertinas e noturnas também terão de esperar um pouco. Me sinto estagnando, enclausurado em casa e todo dolorido. E ainda nem é inverno. Ó céus.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-YEkyaYWR7tc/VODbHjGSVQI/AAAAAAAAB8M/Uifu2ySOVFY/s1600/Frozen-Elsa-Let-it-Go-snowflakes.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="166" src="https://1.bp.blogspot.com/-YEkyaYWR7tc/VODbHjGSVQI/AAAAAAAAB8M/Uifu2ySOVFY/s1600/Frozen-Elsa-Let-it-Go-snowflakes.gif" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Toda vez que tenho oportunidade falo bem alto "EU ODEIO FRIO!", e, não mais que de repente, sou repreendido por alguém que fala "tá louco? Eu amo frio!". Em seguida, fala como o frio é bom para que as pessoas possam se vestir com várias camadas de roupa (lindas, por sinal), se olharem no espelho e se sentirem elegantes, mais bonitas e arrumadas, sem o incômodo suor que borra a maquiagem ou deixa manchas (a famosa "pizza" debaixo dos braços já não aparece tanto).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Falam também do vinho e da diminuição da fadiga, dos dias de chuva e das cobertas. Das séries. Dos livros. Dos filmes. Das comidas e bebidas mais quentes, que, por sinal, aquecem o corpo. O corpo precisa ser aquecido no frio para que não fiquemos doentes. O frio é legal para essas pessoas. Ele me dói, mas parece que o que deveria importar para mim é que o frio me possibilita ficar mais elegante, mais culto. E só.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ok. Tem gente que gosta de se vestir com mais roupas ou tons mais escuros e no calor talvez não seja confortável de fazê-lo. Tem gente que gosta do vinho e de dormir com cobertor, então o frio seria mais propício de aproveitar esses pequenos prazeres.<br />
<br />
Mas por que mesmo que "as pessoas ficam mais elegantes no frio"? Será que é porque elas fazem coisas que gostam de fazer? Será que é porque podem fazer coisas historicamente tidas como "cultas" (e europeias) nesse nosso 'país tropical abençoado por Deus'? Ou será que o frio tem refletido o que tem sido cultivado na nossa sociedade: camadas de aparência colocadas sobre um corpo frio que precisa de afeto e movimento para se aquecer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Parece que fiz um longo salto lógico aqui, mas é importante fazê-lo. Quando eu digo que odeio o frio, me refiro a vários tipos de frio. Inclusive o físico, que me desperta dores também físicas (nas juntas, nos músculos, nos seios da face...), mas também me refiro ao frio interior. Gente fria. No máximo simpática, que corta a gente quando queremos uma conexão de verdade, troca de calor, de vivência. Gente que usa camadas e camadas de aparência para aquecer um corpo frio de forma artificial.</div>
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<br /></div>
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Eu gosto bastante da ideia do meio termo (mais para o calor, por óbvio), tanto que minha estação favorita é a primavera. Acredito muito nos ciclos e na necessidade deles para que a vida se desenvolva, mas é na primavera que os animais voltam para a superfície, acordam do estágio de hibernação (quando não precisam mais se abrigar do frio exterior) e voltam a interagir entre si naturalmente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E não há nada de errado em gostar desse meio termo. Não é preciso definir uma luta entre calor e frio em extremos, até porque ambos são fatores subjetivos da experiência. Há momentos em que estamos mais afim de hibernar, ficarmos a sós, introspecção. Há outros em que ficamos dispostos a "botar a cara no sol", sair e interagir. E tudo bem com isso. São ciclos autênticos mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Olha só, se você gosta de um tempinho mais frio eu te compreendo, ok? Inclusive eu já li que a melhor forma de se aquecer no frio é contato entre peles. Sim, dois corpos quentinhos juntinhos, Nuzinhos da Silva, são melhores até que aquele casacão que protegeria um só. Isso também se aplica às nossas relações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cá entre nós, prefiro correr pelado (ou quase isso) do que ficar travado com um monte de roupa que limita meus movimentos, até mesmo de dar ou sentir um abraço. A elegância, pra mim, está estampada no corpo: nos olhos, nos lábios e nos gestos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-16519283942313895772017-04-16T13:34:00.001-07:002017-04-16T13:43:32.543-07:00Cheirinho de praia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcWf_A7i3cVt2ikf_aHKJEvjGK7Rhy7BrjoE7Efr-gWQthYeVNyHLT99O-535wDVdK-NjmXIPmmVhY6tPv_km2rHodBdbw_MvUMxx3AvQmG9mEDOQOSEK2Db_9n-Vv99ZYizwXkpDuSHg/s1600/summer_0.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcWf_A7i3cVt2ikf_aHKJEvjGK7Rhy7BrjoE7Efr-gWQthYeVNyHLT99O-535wDVdK-NjmXIPmmVhY6tPv_km2rHodBdbw_MvUMxx3AvQmG9mEDOQOSEK2Db_9n-Vv99ZYizwXkpDuSHg/s400/summer_0.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Era sábado a tarde. Bruno se preparava para mais uma semana que viria com tudo. O sábado é o dia que ele tira para ficar a toa e fazer tudo aquilo que vier na cabeça de repente, não mais que de repente. Os sábados de Bruno são muito atípicos e ele gosta disso: ninguém, nem mesmo ele, prevê o que será desse dia incrível, quando a sua imaginação e motivação estão no ápice.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já tinha resolvido algumas questões que estavam perturbando a mente dele e de gente próxima, foi na rua procurar um lugar para cortar os cabelos, mas não conseguiu achar nada aberto, porque naquele sábado especificamente as coisas estavam fechando pela manhã ou simplesmente as pessoas decidiram não ir trabalhar, pois na sexta havia sido feriado. Ele foi almoçar, mas o lugar onde ele queria comer também não estava aberto, então deu meia volta e foi no segundo lugar onde queria ir e seu dinheiro podia pagar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao voltar para casa, Bruno resolveu cuidar de si. Tinha algumas pequenas feridas para tratar, resolveu mexer nos cabelos por conta própria - só não iria cortá-los porque as experiências passadas dessa natureza não foram bem sucedidas - e dar um jeito na pilha de coisas que estavam fora do lugar. Tudo isso lhe veio na cabeça não mais que de repente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas foi enquanto ele cuidava do seu rosto que lhe veio uma doce lembrança: ao abrir o protetor solar, Bruno sentiu o cheirinho de praia que ele tanto gosta. Sabe como é o cheiro de praia? Um cheiro bem gostoso e aconchegante, que lembra um calor confortável, a água do mar, a areia, toda a diversão e atmosfera que só se conhece na praia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sentir o cheiro de praia daquele protetor solar fez com que ele entrasse numa experiência só dele, cheio de lembranças gostosas e sensações que o faziam estremecer por toda a espinha, começando de cima para baixo, tomando conta do seu corpo. Naquele exato momento, Bruno já não estava mais dentro do seu apartamento.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele já estava se imaginando correndo, o corpo se bronzeando, coberto de água, sal e suor. As cores que vinham a sua mente eram o amarelo do Sol, dos sombreiros e das mesas e cadeiras, o azul do céu misturado com o azul esverdeado do mar, que se juntava ao branco da espuma das ondas e ao tom quase bege da areia da praia, além de alguns pontos verdes que o faziam lembrar dos cocos e das árvores do litoral. A cena veio à sua mente muito rápido e o prazer tomou conta da sua existência naquele pequeno instante. Bruno se sentia ainda mais em casa agora. Não demorou muito, já tinha passado aquele protetor pelo corpo como se vestisse a sua melhor roupa ou tomasse um banho do seu melhor perfume.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era ainda de tarde, ele tinha muitas outras possibilidades e encontros para aquele dia, mas foi aquele instante que fez valer todo o seu dia. Ele saiu de casa confiante de que aquele cheiro conquistaria a todos que encontrasse dali em diante e que tudo estava maravilhoso, porque, por um instante, Bruno esteve no seu mais singelo paraíso. E, uma vez no paraíso, tudo se torna divino. </div>
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<br /></div>
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Foi assim que ele entendeu que o divino não é nada extravagante, mas tem cheirinho de praia e mora dentro dele, só precisava se lembrar disso.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(Este caso não acaba aqui. Há algum tempo eu comecei a escrever um pequeno livro chamado "Em Dias de Cão", contando a história do Bruno e as reviravoltas de um momento da sua vida. Vou continuar escrevendo e compartilhando com vocês partes aleatórias por aqui. Não se assustem caso não faça muito sentido :D)</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/TFXlWfzW9Uo" width="560"></iframe>
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-70589642405929684682017-04-02T19:55:00.001-07:002017-04-02T20:04:52.990-07:00Carta do filho pródigo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggUwiD7qLiE_kEYU-X_69DcOXS6HPyHWGhHjqWi_VjzIvc03FQM2UwU9k40CDiNMJxxvUzuaOuGoaUbgnoIbVgsTcjPOUwVlE49aH313dAfMfCNcFc8BAIIj0eWqA7I_kZjK_SbUeFApg/s1600/nascer-do-sol-no-deserto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggUwiD7qLiE_kEYU-X_69DcOXS6HPyHWGhHjqWi_VjzIvc03FQM2UwU9k40CDiNMJxxvUzuaOuGoaUbgnoIbVgsTcjPOUwVlE49aH313dAfMfCNcFc8BAIIj0eWqA7I_kZjK_SbUeFApg/s400/nascer-do-sol-no-deserto.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
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Irmãos e irmãs. Meu pai.</div>
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<br /></div>
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É a primeira vez que escrevo desde que parti. Não faz muito tempo, pedi tudo que era meu por direito e resolvi andar com minhas próprias pernas e ver o mundo através dos meus próprios olhos. Quis ir além dos muros do palácio onde vivia, pois acreditava que eles apenas me serviam como prisão, como verdadeiras cercas por onde a luz e as outras cores não poderiam me alcançar. </div>
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<br /></div>
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Acreditava que todo o afeto que eu havia nutrido por tanto tempo ali dentro, naquele lar cheio de amor, acabaria por me sufocar e era preciso sair para respirar e compartilhar um pouco com aqueles que estavam do lado de fora e viviam ao ar livre. Eu acreditei que estar ao ar livre era liberdade, e que, quem ali estava, também seria livre e viveria do amor. Doce e pura foi a minha ilusão.</div>
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<br /></div>
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Nas primeiras milhas da minha jornada já comecei a sentir as dificuldades de se estar caminhando pelo deserto, agora solitário, mas ainda com recursos. O sol brilhava forte pelas manhãs, o seu calor dilatava meus poros e a sede me consumia sempre que meu corpo se expunha em várias de suas partes. Não bastava então a água. Era preciso algo além. Sais e outras espécies de bebidas me divertiam e faziam esquecer que, naquele deserto, os oásis não passavam de miragens. </div>
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<br /></div>
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Os "amigos" e conhecidos se agrupavam ao meu redor e, pela primeira vez, me via dentro de um ciclo social, é verdade, fora daquilo que me era familiar. Era divertido, libertinoso, mas ainda assim não me senti livre. Rapidamente os recursos foram se esgotando e as minhas burrices se tornaram cada vez mais danosas. E os "amigos" já não eram nem mais conhecidos.</div>
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<br /></div>
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Fui parar na lama, vivendo com os porcos, e nem do alimento deles eu podia comer. Nem mesmo os porcos queriam olhar no meu rosto, pois estavam mais preocupados com a lama que jogavam uns nos outros e aonde rolavam. Era ali o meu fundo do poço.</div>
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<br /></div>
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Pensei tanto na casa de meu pai, no vento que batia nas minhas vestes limpas, no calor aconchegante do abraço dos meus irmãos e irmãs, amigos e amigas que trabalhavam em nossas terras, que viviam na fartura e abundância, nutrindo o amor, mesmo quando havia uma ou outra intriga. Nunca lhes faltou alegria enquanto estavam ali partilhando os frutos daquilo que plantavam.</div>
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<br /></div>
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Foi assim que resolvi escrever essa carta.</div>
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Aos meus irmãos e irmãs, quero pedir perdão pela minha ousadia e arrogância. Peço que compreendam que eu era (e ainda sou) inexperiente nas matérias da vida, por isso resolvi correr, mesmo pisando em falso, pois a sede por aprender a caminhar era grande e as distâncias pareciam infinitas.</div>
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<br /></div>
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Aos meus amigos e amigas, peço perdão por desdenhar do que tinha. Não quero com isso dizer que não reconhecia o quão bom era tudo o que me era oferecido, mas sim porque me permiti deixar perder tudo isso por miragens e um sol que cega até o mais lúcido dos homens, que se reflete no desejo, naquilo que não se tem e no que se pode acrescentar, mesmo que lá não haja nada que valha a troca.</div>
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<br /></div>
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Por fim, ao meu pai. Pai, não sei se ainda sou digno de ser chamado teu filho. Mas rogo pelo teu perdão por ter duvidado do seu amor por mim. De minha parte nunca duvidei que te amo, mas não sabia a dimensão desse amor infinitamente maior que o meu. Nunca havia parado para pensar, eu, tão cego pela luz que invadia minha pequena janela vinda do horizonte, que tudo aquilo que me cercava era obra do teu amor por mim. </div>
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<br /></div>
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E, mesmo quando resolvi partir de perto de ti, foi o seu amor que me permitiu fazê-lo, mesmo com o coração apertado. Foi o teu amor que me protegeu de que acontecesse o pior quando você não estivesse mais aqui para me resgatar, nem que fosse na lembrança de que havia um lugar onde tudo era melhor e para onde eu ansiaria retornar. Só pelo teu amor você me permitiu brotar, crescer, desbotar e me recolher de novo, envergonhado, mas não mais perdido. </div>
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<br /></div>
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Pai, o seu amor me permitiu aprender esse ciclo. Me permitiu conhecer as estações. O que te peço agora é que me acolha de volta em seu terreno fértil, no seu jardim de amor. Já não tenho mais fome da lavagem que nem mesmo me permitiram comer. Já não tenho sede das águas daqueles oásis ricos que as miragens me faziam ver. A minha fome, pai, é de verdade e a minha sede é desse amor.<br />
<br />
Eu estou de volta, pai. E daqui já posso ver a sua casa. Mal posso esperar pra te ver novamente.<br />
<br />
Um grande abraço.<br />
<br />
Daquele que te ama desde antes de nascer.<br />
</div>
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<br /></div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/cKEkePEpcp0" width="560"></iframe><br /></div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-38889983847535874242017-03-11T18:32:00.003-08:002017-03-11T18:35:19.200-08:00Limpeza<div style="text-align: justify;">
Depois de uma farra das mais estranhas dentre as que já me meti, só queria duas coisas: uma cura para a ressaca e uma faxina mágica na minha casa. Mas como é mesmo que eu fui parar ali?</div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidMennR0lqluOnf6S1V8fjJePldZhf_Yl2QbnKRPmjIqfdy-A049TjY361vgmSLv970X9pm5d0-uj5xXWo3CmM7LaRVDpHSHIRTjo2Ed9XgcMZxlz6qwUf7CJv_tPy88tmbWVJHC0Ysos/s1600/foto2_Fazer-faxina-pode-dar-dinheiro-Para-onde-foram-as-house-cleaners.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidMennR0lqluOnf6S1V8fjJePldZhf_Yl2QbnKRPmjIqfdy-A049TjY361vgmSLv970X9pm5d0-uj5xXWo3CmM7LaRVDpHSHIRTjo2Ed9XgcMZxlz6qwUf7CJv_tPy88tmbWVJHC0Ysos/s400/foto2_Fazer-faxina-pode-dar-dinheiro-Para-onde-foram-as-house-cleaners.jpg" width="400" /> </a></div>
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<br /></div>
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Estava tão empolgado com tudo que vinha dando certo até agora que resolvi comemorar. Era muito bacana a ideia de sair e celebrar com um amigo esse momento tão fantástico que eu estava vivendo. O esquenta começou em casa mesmo. Não demorou muito pra que já estivesse embriagado e fazendo besteiras. Mas até aí tudo bem, dentro de casa era tranquilo.</div>
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<br /></div>
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Foi então que estava suficientemente tonto ao ponto de ser corajoso e sair. Fizemos isso numa velocidade espantosa e, de repente, parecia que eu tinha entrado de penetra numa festa trash. De início, ainda empolgado com a coragem que tinha conseguido com aquele porre inicial, parecia tudo novo e cheio de opções. Mas logo mais a onda foi acabando, a grana foi junto e com tudo isso a graça também. Era, definitivamente, um filme de terror fantasiado de American Pie. Uma obra de péssimo gosto, mas que, pelo nível de entusiasmo anterior, não passou pelo crivo da criticidade e foi direto para a aprovação do otimismo.</div>
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<br /></div>
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Não demorou muito para acabar me perdendo do tal do amigo, ou vice-versa, não me lembro. Só sei que nesse ponto precisava de ajuda. De preferência para ir embora. Mas, como é comum nos filmes de terror, o personagem fica preso na trama até findar o clímax. E como o script era bem trash a coisa foi se tornando cada vez mais ridícula e já estava me apresentando como um personagem imbecil que merece morrer. Ainda bem que não gosto de filmes de terror, nem de beber, muito menos de festas trash.<br />
<br />
Na primeira oportunidade que me apareceu saí correndo sem nem me preocupar com a comanda. Isso até me deu uma dor de cabeça bem pesada por algum tempo, mas precisava de ar puro. E como precisava! Pouco antes de dar o fora daquela festa e voltar para casa deu para perceber que a minha ressaca não era simplesmente alcoólica, mas tinha algo mais na bebida. Não demorou muito pra perceber que alguém havia forçado uma intoxicação em mim e que não era um amigo aquele que participou do esquenta comigo. E pior: minha comanda apareceu com outros valores que não reconhecia (até porque não gostava daquilo que estavam cobrando ali, então não teria comprado nem se estivesse bêbado) e as mensagens de cobrança não paravam de aparecer.</div>
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<br /></div>
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Tudo resolvido, acho que é melhor dar um jeito na minha ressaca aos poucos. Pelo menos não entrei em coma alcoólico ou dei perda total, não é mesmo? E preciso urgentemente limpar minha casa. Talvez eu peça ajuda. Parece que alguns bichos indesejados andaram fazendo a farra enquanto eu estive ausente de mim e talvez eu até tenha colaborado (risos). Não deve demorar muito. Minha casa é pequena, mas sempre foi aconchegante, fácil de limpar, afinal de contas, não costumo acumular tranqueiras. É uma excelente hora para jogar água em tudo e tirar além do grosso. Limpeza profunda. Tudo brilhando como novo.</div>
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<br /></div>
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<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/W4gkUDHR7VU" width="560"></iframe> </div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-84655878674188352732017-03-07T18:17:00.003-08:002017-03-07T18:17:42.296-08:00Lua em câncer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
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Faz mais um ano desde que você partiu, mas eu ainda sigo os poucos rastros que fiz questão de guardar comigo. Seria esse o momento de deixar que se vá?</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrh9g0lhDzJS6IvhCN0-Rds_ggDQBt5In3kCZQWe5wCw7M0orr_UeTK_f11XB6Ybb3bnQcA2HWmindt8CBb5aHqiTIBF6Ph33pP1mrBAncu7sfKC90NjLWJoxiqp1PbhVDlaiNGbymQ3o/s1600/melhores-fases-lua-cuidar-horta-calendario-lunas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrh9g0lhDzJS6IvhCN0-Rds_ggDQBt5In3kCZQWe5wCw7M0orr_UeTK_f11XB6Ybb3bnQcA2HWmindt8CBb5aHqiTIBF6Ph33pP1mrBAncu7sfKC90NjLWJoxiqp1PbhVDlaiNGbymQ3o/s400/melhores-fases-lua-cuidar-horta-calendario-lunas.jpg" width="400" /></a></div>
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<br /></div>
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Já é quase a virada da madrugada, quando não se sabe em que dia estamos. O fato de ser tarde se junta ao momento de estar só e faz lembrar daquilo que foi, que poderia ser. Do lado de fora, barulhos estranhos espantam o que talvez fosse tristeza, mas que na verdade é plena saudade. Momentos que não vão voltar, porque agora não há mais aquele caminho para trilhar. Juliet finalmente se foi e junto com ela os cacos que quebrou do meu coração, agora remendado e que aos poucos cicatrizou até a última fenda, tornando-se um pouco mais rústico, porém bem mais sensível e maleável, abrindo-se para as sensações que nele quisessem entrar.</div>
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<br /></div>
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Não tenho mais o que falar sobre Juliet. Nem sei mais quem é. Não tenho noção de como se parece agora. Mas o bom sentimento que fora nutrido permanece. E foi assim que superei. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois de Juliet vários foram os nomes, rostos e formas. Cada uma em sua intensidade e gostos. Uma diversidade linda, plena e verdadeira, com confidências exclusivas, especiais, mas sem qualquer exclusividade. Aprendi que era preciso aprender com Juliet e explorar a liberdade, não me prender a situações e buscar conexões que fizessem sentido. Que não era interessante me perder enquanto me perdia em alguém. É preciso presença. É preciso tato. É preciso saber que se é alguém e que, junto de si, há outro alguém.<br />
<br />
Hoje estou só. Desesperado. Buscando esse contato. Mas não quer dizer que não me sinta bem estando comigo, é só a lua em câncer. Me deu muita vontade de poder compartilhar um pouco do meu mundo e poder ter o mundo do outro compartilhado comigo. Um momento de sinergia e um poço de sensações bem profundas. É o momento de interiorizar e, se possível, trocar afeto. Para que ninguém tenha que enfrentar seus demônios sozinhos. </div>
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<br /></div>
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Eu estou só e com saudades, então o tato é o sentido do momento. Pode ser um olhar também. Mas as paredes brancas não o podem fazê-lo.</div>
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<br /></div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/LLoyNxjhTzc" width="560"></iframe><br /></div>
<br />Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-42167581925224414692017-02-01T07:40:00.004-08:002017-02-01T07:40:42.303-08:00Meu medo estampado<div style="text-align: justify;">
Foi uma noite intensa, mas parece que sobrevivi. Deixa eu te contar...<br />
<br />
Há alguns anos passei por algumas experiências pesadíssimas para alguém com tão pouca idade e sem força física suficiente para sustentar aquilo que era preciso naquele momento. Contudo, não era nem um pouco fraco. Segurar intelectual e emocionalmente aquela situação era um exercício que exigia muito e acabaria por moldar quem viesse a realizá-lo. Claro que, como qualquer exercício, se realizado em excesso e sem as adequações, causaria consequências ruins.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_cuT-0D7vBZy7IUpTDD-LMHq8kMRoiH1GgUIleeNeg6IkMkV397Rb29Do9EJGqjEnmhX8agW8-ODkzmCUJ-b0ELPK-j7sVqhP2FTxQoIxs33IvmskZPCSTN7Viwm1RUVHvOLZikXaPlM/s1600/cachorro-com-medo-de-fogos-e-trovoes-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_cuT-0D7vBZy7IUpTDD-LMHq8kMRoiH1GgUIleeNeg6IkMkV397Rb29Do9EJGqjEnmhX8agW8-ODkzmCUJ-b0ELPK-j7sVqhP2FTxQoIxs33IvmskZPCSTN7Viwm1RUVHvOLZikXaPlM/s400/cachorro-com-medo-de-fogos-e-trovoes-2.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
Acredito que seja uma história nova para a maioria, afinal de contas não me lembro de tê-la partilhado com ninguém além da borda da minha família e um ou outro amigo próximo (e olhe lá), mas com certeza não foi com a profundidade e intensidade de agora. Assistindo "Avatar: a Lenda de Korra" percebi novamente o quão importante é, para vencermos os nossos medos, falar sobre eles e é isso o que quero.<br />
<br />
Havia uma pessoa em minha casa. E ela não era bem-vinda.<br />
<br />
Por alguns meses essa pessoa foi tomando o espaço inteiro, até o ponto em que só tínhamos um cômodo para chamar de nosso. O último refúgio. Meu quarto não era mais meu. A sala não era mais um espaço de convivência. A cozinha se tornara um ambiente de disputa entre aqueles que ainda queriam passar por lá. Até o espaço de lazer e trabalho, onde deveria haver paz, foi tomado pelo medo e instabilidade. A pior parte disso tudo é que não havia para onde ir, não se podia abrir a boca para dizer algo que nos libertasse. Os olhos e os ouvidos habitavam todos os cômodos e os olhos e ouvidos que poderiam nos resgatar estavam tentando viver um sonho.<br />
<br />
Um pouco tempo antes do Ensino Médio e um pouco depois de ter entrado nele, me encontrava nessa situação insustentável. Era muito difícil ter que ver eu e as pessoas que mais amo se tornando reféns de uma criatura que ali estava por piedade de alguém que a amava cegamente, mas que seus problemas (chame como quiser) não permitiam que fosse uma pessoa agradável, confiável e, no meu caso, digna de amor e compaixão. Eu tinha que ser forte e reprimir toda tristeza, raiva e medo que me cercavam para poder ser inteligente, racional, e conseguisse defender aquela pessoinha indefesa que eu mais amo: meu irmão. Não poderia deixar que a influência daquele ser, que para mim era repugnante, afetasse o mais doce e inocente garoto que havia recebido de presente quando pedi a Deus para que não me deixasse sozinho no mundo. E então este que vos fala segurou, por anos, um ressentimento reprimido por tudo aquilo que repugnava nessa situação.<br />
<br />
Mas como tudo que é reprimido, um dia aparece. Mesmo que não faça sentido de aparecer naquele momento. O corpo tem suas válvulas e, ao longo do tempo, vai esvaindo os medos um por um, seja para que vão embora ou para te enlouquecer. E ontem, durante o sono, eu revivi tudo aquilo. E chorei desesperado. Acordei com o rosto completamente encharcado e inchado. Não me reconheceram quando me viram e ainda não tive a oportunidade de compartilhar a experiência com a família. Mas já me sinto liberto.<br />
<br />
Cada um vive um ou vários medos e eles vão se transformando ao longo da vida. Medo de não ser aceito, da vida adulta, da sexualidade, de não conseguir pagar as contas, de não passar na faculdade. E é desesperador sentir medo! Mas quando a gente identifica o medo e para de reprimi-lo, fica bem mais fácil de lidar com ele. Isso faz com que não se deixe identificar com o medo, tire ele das grades que nós construímos dentro de nós, em que acabamos nos tornando carcereiros - e ao mesmo tempo escravos dele - e permita que ele vá.<br />
<br />
Nessa experiência, por exemplo, eu havia me tornado um sujeito muito duro e que pouco se expressava. Ou que quando se expressa o faz de forma misteriosa, quase que não dá para entender. Meu irmão me chama carinhosamente de "máquina de guerra fria e impiedosa" e às vezes diz que não sou tão gelado assim, que até tenho uns 2ºC no meu coração. Mal sabia ele que meu coração ferve feito lava sempre. A questão é que aprendi a esconder tudo isso por meio da linguagem. Tive que aprender. Para me defender e defendê-lo. Algumas vezes ainda escapa alguma coisa pela linguagem corporal, mas até isso eu me obriguei a aprender a controlar. Só que não dá.<br />
<br />
Essa foi apenas uma onda no oceano que me habita. Mas foi um grande tsunami seguido de maremotos. E me parece que finalmente a poeira baixou e as correntes estão se realinhando. Que de agora em diante seja mais tranquilo para que "continue a nadar". E, se não for, pelo menos já aprendi a navegar em marés turbulentas.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/gH476CxJxfg" width="560"></iframe>
</div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-86679478831553631002016-12-29T07:10:00.002-08:002016-12-29T08:53:42.823-08:00Amor único e a teoria dos afetos<div style="text-align: justify;">
É fim de ano. Já passou o Natal e agora nos encaminhamos para o Réveillon. Nessa época costumo ficar embalado nas músicas da Ivete. A proposta de hoje é justamente essa: pare alguns minutos para ouvir atentamente essa música.</div>
<div style="text-align: center;">
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/BNjdJtbpS8w" width="560"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Se conseguiu acompanhar a letra, percebeu que ela tem a ver com amor. São vários momentos, desejos e pensamentos que a Ivete compartilha enquanto canta. Parece até uma carta cantada para alguém a quem se ama. Mas aqui fica a pergunta: para quem cantaria essa música? Pare um pouco e reflita sobre isso. Para qual tipo de relacionamento, para qual(is) pessoa(s) você escreveria ou cantaria uma música assim?<br />
<br />
Já me fiz esse questionamento algumas vezes de Novembro para cá. Também joguei essa intriga para alguns amigos (que ficaram impressionados com a música da Ivete). Algumas respostas foram bem vagas. Existem aqueles que ficaram bem confusos e me pediram para dissertar sobre, tentar explicar melhor onde eu queria chegar com isso. Um deles me respondeu que não conseguia pensar numa pessoa em específico ou algo do tipo. Tudo isso foi muito interessante porque parece que chegamos a pontos em comum.</div>
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<br /></div>
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Quando se fala sobre amor, preferencialmente a imagem que se tem enraizada na cultura ocidental é a do amor romantizado, entre duas pessoas que até então não possuem laços sanguíneos e se entregam uma à outra para viverem tudo o que há para viver e vencerem juntos as tribulações. Isso tudo é bem detalhado ao longo de vários séculos de produção cultural dos grupos que compõem nossa civilização. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas até mesmo a mídia de massa, os filmes infantis e as produções de Hollywood - epicentro da difusão de <i>status quo</i> e padronização de valores globalizáveis - têm explorado outras vertentes do amor. A Disney, por exemplo, tem feito filmes que enaltecem o amor entre irmãos, os vínculos familiares e de amizade (desde Lilo e Stitch - "Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer" - até os mais recentes como UP, Frozen, Malévola - que é uma incrível releitura de um clássico de princesas romantizadas - e Divertidamente). É um movimento muito poderoso de valorização dos afetos, daquilo que é concreto, verdadeiro e recíproco.<br />
<br />
Não se tem mais uma fórmula fechada que delimita a experiência de amar e ser amado a uma relação romântica e isso é libertador. Enquanto o amor fosse possível apenas por esse meio, do amor romântico, idealizado e incentivado para além de todos os outros relacionamentos, o amor deixaria de ser libertador para ser escravizador. É como se encontrar a alma gêmea, a metade da laranja, seja lá como chamem, fosse o objetivo de vida e manter essa pessoa consigo um dever, uma obrigação até a morte (ou um martírio). Por essa cultura ter sido tão difundida ao longo dos anos é que eu leio e escuto por diversas vezes pessoas dizendo que não acreditam no amor ou que, a partir daquela desilusão romântica, não acreditarão mais ou não querem mais amar. Porque dói. E dói mesmo. Mas não acredito que seja amor.<br />
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoX1_MYWoD_3t704038Cl_NeR8-MsCLhv-ZoqXwK9IpSXV2r0B1N9NfJueXEF6jrtSEhvjPJlWaQFtHtQYeii-svi7tbnPN4CPVH6iw78M2KYZ4jph7T9LDlK0_-spF8Llsd1j_3Et-UU/s1600/Giraffe-With-Calf.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoX1_MYWoD_3t704038Cl_NeR8-MsCLhv-ZoqXwK9IpSXV2r0B1N9NfJueXEF6jrtSEhvjPJlWaQFtHtQYeii-svi7tbnPN4CPVH6iw78M2KYZ4jph7T9LDlK0_-spF8Llsd1j_3Et-UU/s400/Giraffe-With-Calf.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><h3>
O mamífero terrestre de maior coração</h3>
</td></tr>
</tbody></table>
A experiência do amor é uma experiência energética. Acredito nisso do fundo do coração. Do contrário, não poderia explicar a forma como lido me relacionando com as pessoas. Amor é energia. Ela pode ser dada, trocada ou roubada. Ela também precisa ser gerada. Há momentos em que não consigo estabelecer conexões, principalmente de troca, pois não consigo perceber a abertura (tanto minha quanto da outra pessoa). Em outros, a coisa flui, não importando que tipo de relação será produzida daquilo ali (se será uma doação ou troca), apenas pelo movimento, pelo afeto nutrido (mesmo que seja algo como amor à primeira vista - quando se bate o olho e sente que é uma pessoa com quem se quer ter alguma proximidade). Mas tem horas que a gente se sente sugado ou sugando. Quando isso acontece é hora de parar um pouco e se afastar - não é uma relação de amor.<br />
<br />
Amor de pai, de mãe, de filh@s, de irmão e irmã, de prim@, amig@, de mero conhecido, de avô e avó, ti@, net@s e sobrinh@s, de companheir@s e até de bichos de estimação. Todos podemos ser amantes, de diversas formas. O amor é único, mas as formas de expressá-lo variam de acordo com a teoria dos afetos. Cada pessoa nutre um afeto diferente, independente do rótulo que damos, em momentos diferentes.<br />
<br />
A propósito, Ivete disse que fez a música pensando no filho dela. Em como ela se sente quando chega em casa depois de noites de trabalho e que a primeira coisa que faz é ir para o quarto dele vê-lo dormir. Isso é amor, em uma de suas muitas formas.</div>
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-59510744849454779182016-11-06T08:46:00.001-08:002016-11-06T09:24:25.629-08:00Me dei licença<div style="text-align: justify;">
Já deu, não é mesmo? Um ano doido como tem sido 2016, com coisas do arco da velha acontecendo, que não se poderia prever nem na pior das hipóteses do ano anterior, a única coisa que não se quer é mais uma crise existencial batendo às portas.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRuf_Xu7IDS1HQJ4KJ9-N9lZlg7MqQ7YQHw5pcPcxX7NG5ulS_aBjpzv_YfwemIPddzbh64GHBfd-0J6n4SgFlTuOETRZ3ipPuAEhFmWyCwZYlcviW9QVQZ0Sd6INOK8tW6zfXs3Yvweg/s1600/beach-walk-9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRuf_Xu7IDS1HQJ4KJ9-N9lZlg7MqQ7YQHw5pcPcxX7NG5ulS_aBjpzv_YfwemIPddzbh64GHBfd-0J6n4SgFlTuOETRZ3ipPuAEhFmWyCwZYlcviW9QVQZ0Sd6INOK8tW6zfXs3Yvweg/s400/beach-walk-9.jpg" width="400" /></a></div>
<br /></div>
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Depois de um ano par com idade ímpar, cheio de mudanças, aprendizado, encontros e desencontros, bloqueios e pontes construídas (e destruídas), subidas e barrancos de emoção, é muito bom poder sentar, respirar fundo e perceber que "se eu soubesse antes, o que sei agora, erraria tudo exatamente igual", numa linguagem gessingeriana. Talvez mudasse um ou outro pequeno detalhe, apesar de que foram esses detalhes que trouxeram as maiores lições. Em várias áreas da vida, afinal.</div>
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<br /></div>
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Foi no início deste ano que me percebi um pouco perdido, mesmo após 2 anos trabalhando várias coisas com o coaching e minhas leituras. Tinha sido incentivado a viver intensamente, de forma autêntica, amorosa e desarmado, mas ainda não havia aprendido, na pura prática, como lidar com as dores da alta intensidade. É um pouco frustrante descobrir que as feridas que se abrem não se fecham com a mesma facilidade, nem mesmo retornam ao estado anterior. Toda ferida aberta deixa sua marca. E não tinha restado qualquer pedaço de armadura ali para segurar.</div>
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<br /></div>
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Outra coisa frustrante é não poder ser perfeitamente inabalável, sem descer ao fundo do poço ou descolar totalmente dos sentimentos negativos, do próprio lado sombrio. Descobrir que se pode fazer mal a alguém, mesmo sem querer, é MUITO RUIM, mas infelizmente não tenho como escapar dessa realidade. Havia percebido que há algum tempo comecei a me conectar novamente com
as armaduras, armas e medos que tinha antes, a ficar mais agressivo.
Talvez porque tenha sentido meu espaço diminuído ou pelo menos ameaçado.
Mas não é algo voluntário. Não quero essa carga de novo. Estou aqui para errar e aprender. E pedir perdão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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O mesmo Sol que nos ilumina faz projetar as nossas sombras. E a escuridão da noite permite que vejamos as outras estrelas. A vida não se trata de um combate entre luz e escuridão, mas da beleza
de perceber que uma aprende com a outra e reproduz o melhor de seu
oposto para harmonizar a sua essência. Desculpem meu auto-plágio, mas essa frase nunca fez tanto sentido.</div>
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<br /></div>
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E sim, nesse tempo pedi muitas desculpas. Mais do que o homem médio faria, afinal não o sou nem pretendo sê-lo. Pedi desculpas inclusive quando não sabia ao certo se estava errado. Passei a fazer isso porque acredito no poder restaurativo das conexões e na desnecessidade de enaltecer o ego, o orgulho; mas, certamente, isso pode ser também uma válvula de escape em relação ao conflito e à reflexão sobre o que quero, de escolher com clareza, propósito e estando presente. Talvez por medo. Medo de perder as conexões, os prazeres. O medo de não ser mais digno de amar e ser amado (a propósito, esse é o tema do meu livro predileto, que voltou para mim um pouco antes do meu aniversário, ajudando com a minha reconciliação comigo mesmo e com o caminho para a redenção). O perdão, principalmente o que devemos a nós mesmos, é um tema profundo, amplo e cheio de nuances. Mas é como um rio. Ele flui e faz fluir.<br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
Há alguns dias o Sol entrou em Escorpião e com ele trouxe toda a intensidade. Parece um pouco horóscopo, mas sinto que seja um momento de fazer escolhas profundas. De voltar para dentro, encontrar o que me nutre e poder desabrochar novamente. É um ciclo que tenho que aceitar. Altos e baixos. Momentos de felicidade, de raiva, de tristeza, medo, tudo isso é natural e é preciso aprender a lidar e a se cuidar enquanto acontece. Enquanto se vive o momento que está aqui, presente. Escolhendo qual é a música que se quer ouvir e dançar. O que se quer nutrir.<br />
<br />
"É o que é. Colha o que foi bom. Se livre do resto." Me dei licença. Agora estou em manutenção. Os erros existem e consegui percebê-los (e agradeço a quem me ajudou nesse processo). É hora de reparar o que pode ser reparado. <br />
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<br /></div>
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<br /></div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/rTjL9U6Sd4E" width="560"></iframe></div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-24877315581717309212016-10-03T19:36:00.002-07:002016-10-03T19:38:47.650-07:00A caixa pálida<div style="text-align: justify;">
Era de tardezinha quando Arthur estava sentado pensando na vida. Naquele mesmo dia ele já havia lido pelo menos 3 jornais diferentes, buscado informações em algumas fontes alternativas e traçado um plano para sua próxima viagem, cujo destino ainda teria de ser escolhido. Ele não estava ligando para onde ia, apenas queria muito sair daquele lugar desgovernado e ver aonde iria chegar.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVGgnRBqwa0jIJnqgKg4JTmksGTs3xTPQg4x90hKs9Q_nPzPrmuhfm9PUgRIIHOQ16USM-8cgs6rAnxTcr-3zUJn7fsHjK8CehFtzTfSqp85iCQDqVmClYGvcSVXtTIq8RGEjsVxGiB4/s1600/evening_grazer2-1024x683.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVGgnRBqwa0jIJnqgKg4JTmksGTs3xTPQg4x90hKs9Q_nPzPrmuhfm9PUgRIIHOQ16USM-8cgs6rAnxTcr-3zUJn7fsHjK8CehFtzTfSqp85iCQDqVmClYGvcSVXtTIq8RGEjsVxGiB4/s400/evening_grazer2-1024x683.jpg" width="400" /></a></div>
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<br /></div>
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Seus planos sempre eram à prova de pontas soltas. Ele diz que está sempre pronto para a guerra. Tem comida, água, roupa extra, quase todos os materiais de escritório do MacGyver, um treinamento intensivo nas antigas artes orientais da medicina e da meditação, preparo físico para vencer os desafios e a preguiça, além, é claro, de uma mão de ferro quando se trata de dinheiro. Para que alguma coisa desse errado, teria que escapar a sua cara de pau e curiosidade, pois também não tinha muito medo de gente, a menos que fosse uma grande ameaça a sua integridade física ou financeira, já que o sangue já parecia estar frio como de um réptil.</div>
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Pegou sua mochila para olhar o que havia lá dentro. Foi futucando em cada bolso. Talvez nem ele soubesse o que estava procurando. Parecia frustrado e preocupado com alguma coisa. Já era a terceira vez que ele rodava a casa toda e parava ali, fazendo a mesma coisa, procurando alguma coisa que parecia perdida. Olhou uma última vez, eis que percebeu que seu telefone tocava em cima da mesa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Logo que atendeu, percebeu que a voz era familiar. Era a voz de um senhor de mais idade, bem acolhedora e gentil, mas que parecia um pouco apreensivo, meio carregada de uma pequena pressa. Dizia que havia algo escondido debaixo do colchão e que deveria ser encontrado às pressas, pois alguém estava vindo pegar (e isso não seria nada bom).</div>
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<br /></div>
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Arthur correu para a cama e jogou o colchão para cima. Ele não se lembrava nem de quem era aquela voz, muito menos de ter colocado algo debaixo do seu colchão. Mas como sua intuição havia apontado, fazia algum sentido verificar o mais rápido possível o que estava acontecendo. E, de fato, havia algo ali.</div>
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<br /></div>
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Embaixo do colchão onde ele dormia todos os dias, havia uma caixa que nunca fora percebida até aquele momento, nem mesmo havia feito relevo. Era algo muito bonito, coberta de pedras que pareciam valer uma fortuna, fechada por um grande laço que cobria os quatro cantos da caixa. Não parecia pesada, pelo contrário, era tão leve que parecia estar vazia. Se perguntou se deveria abrir para ver se não estaria, de fato, vazia. Não fazia sentido algum.</div>
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<br /></div>
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A voz daquele senhor sussurrou novamente em sua mente, dizendo que não havia tempo a perder. Era preciso fazer uma escolha. Ele poderia deixar aquela caixa fechada para sempre e permanecer na dúvida em relação ao seu conteúdo ou abri-la para descobrir o que está guardado. Se permitiu olhar de novo para a caixa, procurou ao redor por algo fora do comum, e, só depois de perceber que tudo estava tranquilo, resolveu abri-la e ver o que havia dentro. Levantou a tampa com cuidado até que, de repente, se viu sendo jogado para trás. Teve que lançar a caixa para longe, pois além de ter sido arremessado pelo conteúdo que saía dela, percebeu que havia ficado excessivamente pesada. Deveria pesar toneladas.</div>
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<br /></div>
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Percebeu que o movimento que o lançou para longe, do conteúdo escapando da caixa, estava se esgotando, então resolveu chegar perto mais uma vez. Dessa vez a caixa estava realmente vazia e mais leve, mas também não possuía mais suas joias na tampa. Havia se tornado uma caixa sem conteúdo, pálida, meio sem graça.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A voz voltou a sussurrar. Dessa vez, Arthur queria perguntar o que estava acontecendo. Eis que ouviu: "essa caixa representa todos os sonhos e sentimentos adiados que tivemos ao longo dessa vida enquanto procurávamos coisas que não sabíamos o que eram. Por fora, parecia bem rica e talvez trouxesse fortuna, algo valioso que coubesse dentro dela sem pesar tanto. Porém, depois que a abriu, deu para perceber como pesa guardar tudo isso, que ficou acumulado enquanto dormia e nem percebeu que estava ali, ou só fingiu que não."</div>
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<br /></div>
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"Mas e as joias?", pensava Arthur. "Eram pura ilusão. Não existe riqueza alguma nessa caixa. Ela apenas apodrece aquilo que é guardado nela. Não é por acaso que você também está, aos poucos, apodrecendo e enlouquecendo aqui dentro. Essa casa, este quarto, o seu coração fechado, tudo isso se tornou um pedaço dessa caixa. O meu papel era fazer com que nós não nos tornássemos o que eu me tornei."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda confuso, Arthur queria saber de quem era aquela voz. Não demorou muito, conseguiu entender de onde vinha a familiaridade: aquele sábio era ele mesmo, num momento de meditação profunda enquanto dormia em cima de sua cama confortável que lhe abraçava como se Morfeu tivesse lhe acolhido. Sim, estava sonhando e logo embaixo dele estava uma carta de amor que ele havia escrito há algum tempo, mas que decidira não mandar por não confiar se era aquilo o que ele sentia e o que aconteceria em seguida, ao demonstrar o que havia guardado em seu coração. Ele havia caído no sono ao reler algumas das coisas que escreveu e relembrar aquilo no que acreditava quando estava mais puro, jovem e amante. <br />
<br />
Arthur sorriu. Dobrou a carta, fechou os olhos e voltou a repousar. Já não era mais um sentimento adiado. Foi um fato que já passou, mas que lhe permitiu reencontrar com aquilo que foi cativado.<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/SQTHB4jM-KQ" width="560"></iframe>
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-78783966736494797902016-09-19T21:14:00.003-07:002016-09-22T05:35:08.100-07:00Mensagem para você<div style="text-align: justify;">
Já era quase de madrugada. Ao redor da sala, tudo escuro. Aqui dentro, LEDs piscavam e permaneciam imóveis o tempo inteiro. Eram sinais de fumaça da era pós-analógica. Quem dera fossem no meu celular. Era só meu modem mesmo.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao lado da TV, meu subwoofer subutilizado por medo dos vizinhos ficarem incomodados ao ponto de sermos expulsos logo no primeiro mês depois da mudança. Ele emite luz azul, algo que poucos sabem, mas serve para acordar a pessoa no meio da noite. Mesmo que seja para ficar acordada enquanto dorme, pensando em tudo aquilo que passou ou que não se viveu durante o dia e o que pode estar por vir. E tantas são as coisas que estão por vir... Que péssimo jeito de ficar desperto.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto me empenhava em criar as oportunidades, os LEDs piscavam de outro lado. 'Mensagem para você'. Não era para mim, mas para outras pessoas com quem eu tentava interagir. Um vácuo digno do delay de mensagens entre Tom Hanks e Meg Ryan. Não estamos mais na mesma época do filme, tudo está mais rápido, instantâneo, fugaz. Não é pra menos que passei a ser chamado de frio: depois de tanto lidar com o pobre sistema de pisca-pisca, aprendi a racionalizar a comunicação sem joguinho. A sensibilidade tornou-se tão fora de parâmetro que a honestidade e a demonstração de interesse (e dos verdadeiros sentimentos) viraram frieza, enquanto ficar aguardando um tempo para dar uma resposta para alguém, não curtir uma foto, não falar um 'Olá' primeiro, tudo isso se torna parte do jogo, do calor da relação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sou bom com essas coisas muito digitais. Tenho preferência pelas coisas analógicas, aquilo que eu aprendo exatamente como funciona e desse jeito posso até consertar. Sem códigos complexos, sem linhas escondidas com variáveis desconhecidas. Por isso me esforço para não me manter olhando para os LEDs, por mais que estes sejam as partes mais analógicas dos meus equipamentos, que só estão ali para avisar que alguma coisa está acontecendo no binário 0 e 1. É que eu não sei lidar com o meu coração analógico quando todo o resto é virtual. Se o meu contato quer ser de pele e sensações, mas o que está disponível é só o status do app. Desculpe, eu não consigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Parece que me perdi na história ali em cima, não é mesmo? Acontece que enquanto eu escrevia me deu vontade de dar um abraço em alguém e de repente eu fui. Larguei o texto pra lá e fui. Agora eu vou de novo. Porque, de fato, a minha mensagem para você não é nada menos do que de afeto. Não importa muito isso daqui que eu escrevi. Só me importa saber se a mensagem chegou aí. Eu sei que vai amá-la. Assim como eu amo.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/y2u6eAK6xL0" width="560"></iframe></div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-86249276131256317002016-08-20T19:22:00.002-07:002016-08-20T19:22:22.110-07:00Já faz meia hora<div style="text-align: justify;">
Abri o editor de textos. Já fazia meia hora que estava parado emburrado. A única coisa que me vinha à mente era uma música da Adriana Calcanhoto. Aquela que fala da meia hora. "Você tem meia hora pra mudar a minha vida. Vem, vambora." Não me pergunte por quê.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fiquei esperando a inspiração chegar. Vi que não estava chegando. Forcei a barra. Há um mês eu tenho forçado a barra. E já faz meia hora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não é uma questão simples. Tenho tanto entalado aqui dentro. Pensei que escrevendo conseguiria soltar. O problema é que não consigo colocar esses sentimentos em palavras. Não é entendível o que estou sentindo. E já faz mais meia hora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se a Adriana estiver correta, em meia hora minha vida pode mudar. Como tem mudado de meia em meia hora. O humor, o amor, a raiva, o desespero, todos os sentimentos e todas as emoções vêm no campo das ideias, mas não conseguem sair verbalmente. E nisso tudo, só tenho meia hora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meia hora. Meio humor. Meio tom. Meio pombo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meios. Quais são?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Será que as horas só serão meias daqui em diante?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acho que vou colocar meias nos pés. Já faz meia hora que chegou o frio. Há meia semana atrás estava um calor sobre-humano; talvez mais que meia semana, uma semana inteira. Estava inteiramente contando horas inteiras, mas sem muita 'inteiresa'. Parece que essas meias horas estão me fazendo chegar mais perto do dia inteiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No editor de texto, meias linhas. Meias palavras. Meios entendimentos. Meios sentimentos. </div>
<div style="text-align: justify;">
No coração, tudo isso em dobro. Tudo por inteiro e dobrado. Tudo a ponto de explodir. Mas sem achar lugar por onde sair. E já faz meia hora que estou tentando dizer isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por favor, só quero mais meia hora. E mais meia. E mais meia. E mais meia. Talvez saia. Alguma coisa ou eu mesmo saia. É só ter paciência comigo. Eu sei, meu bem, já faz meia hora e eu me atrasei enquanto mudava a sua vida.</div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Hsmp8yR-AK8" width="420"></iframe>
</div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-13014564269043865772016-06-07T20:22:00.000-07:002016-06-07T20:29:56.409-07:00"Você é do tamanho que pensa que é"Já ouviu a frase acima? Já leu em algum post, viu em algum filme ou tem uma remota recordação de algum dizer semelhante? Essa frase me apareceu numa postagem do Instagram, feita pelo Rud (um dos meus dois sobrinhos adotados, pessoas que me chamam carinhosamente de tio, apesar de eu não parecer). Na imagem, um sujeito de terno com estatura aparentemente mediana; atrás dele está algo como o Hulk, algo em potencial. O Hulk bem maior, claro. E isso me fez pensar muitas coisas...<br />
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUmy60ly5omyk5vYEN5-I41nw4hl8UMVWCXytFZAjJaBWDyHhf9TYqvOp5Zh95PxpecTQybxXt0iNg0SijvCfXTMq0QGA-urA3xyCCWPiBFfddfdLg7aqXN_vKSwQ-58CdoHLC8AbTfQw/s1600/vedtqpqe.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUmy60ly5omyk5vYEN5-I41nw4hl8UMVWCXytFZAjJaBWDyHhf9TYqvOp5Zh95PxpecTQybxXt0iNg0SijvCfXTMq0QGA-urA3xyCCWPiBFfddfdLg7aqXN_vKSwQ-58CdoHLC8AbTfQw/s400/vedtqpqe.png" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Gostaria de dizer, antes de qualquer outra coisa, que eu me considero um sujeito de baixa estatura. Por volta de 1,70 m quando acordo e 1,695 m ao longo do dia, quando a gravidade faz sua mágica. Quando vejo gente com mais de 1,80 já fico um pouco acanhado, porque vejo essas pessoas grandes e proporcionais com admiração por algo que nunca poderei ser. Anatomicamente falando, já foi minha época de espichar. Geneticamente falando, estou condenado a ser 'um Little aqui, um Little lá'. Isso me deixa um pouco down de vez em quando (desculpe o trocadilho com tamanho, mais uma vez), mas não chega a ser motivo para transtorno psicológico relevante. No fim das contas, consigo fazer várias coisas que essas pessoas fazem e até algumas que não conseguem. E aí é que está: esse é o meu tamanho, aqueles são os dos outros.<br />
<br />
Ser do tamanho que você pensa que é não tem muito a ver com estatura. O Rud escreveu isso no post como subtítulo. O que importa de verdade para perceber o seu tamanho é o seu referencial. Estamos falando de grandezas escalares (sim, física). Para quem não se recorda, existem grandezas escalares e vetoriais, em teoria. Os vetores são indicados por módulo, direção e sentido. Exigem uma representação mais detalhada do que as escalares. Estas, por sua vez, conseguem ser representadas por números e por convenções (unidades físicas, por exemplo, o metro). Aqui chegamos ao ponto nevrálgico: se tomarmos por referência o metro em comparação ao ano-luz, é quase impossível imaginar a escala entre esses dois pela nossa concepção de espaço que vivenciamos no dia-a-dia. <br />
<br />
Pensar o seu tamanho é pensar também o seu contexto. Perceber quais são seus referenciais. O que te circunda. Com quem você anda. O que você tem feito e o que quer fazer. Não é se afundar no pensamento de que você se basta, pois se a sua referência for você mesmo, o seu ego, sua escala será minúscula, por mais que se sinta grande. Como na fábula da águia que foi criada com as galinhas e quando olhava para o céu dizia "como queria voar como essas águias" e suas companheiras galinhas diziam "você quer o impossível! Seu lugar é no chão." O seu tamanho precisa de uma métrica e de um referencial, caso queira alcançar outros níveis. E se não quiser, tudo bem. É a métrica e é o referencial que fazem sentido para você.<br />
<br />
Hoje eu me vejo pequeno. Não em relação à estatura. Não em relação ao meu amigo Matheus, que tem 1,94m. Eu me sinto pequeno em relação ao Universo. À infinidade abundante de amor expressa em energia e matéria que existe (se não são a mesma coisa, afinal). Dessa forma, quem sou eu, perante essa imensidão, para dizer que sou alguma coisa? Quem sou eu para julgar o outro e sua forma de viver diferente da minha e tentar forçá-lo a acolher a minha métrica? <br /><br />Eu me torno aquilo que faz sentido para mim. Eu me cerco das pessoas que me fazem ser melhor. Mas faço isso recebendo da vida aquilo que ela tem para oferecer, no dia-a-dia, nos acasos. Minhas grandezas vetoriais foram estabelecidas quando decidi quais valores me direcionariam, os princípios que me norteiam. Tudo que eu precisava era delimitar minhas escalas e referências. Eu não quero ser grande. Não quero ser maior que os outros. Quero apenas continuar crescendo na direção do infinito das possibilidades do ser.<br />
<br />
Qual o tamanho do seu ser? Quão grande ou pequeno ele parece? Em relação a quê? Se sua métrica fizer sentido, você já terá as suas grandezas.<br />
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-39137868970312309402016-05-12T20:13:00.001-07:002016-05-12T20:18:47.638-07:00"Boa tarde, Matheus"<div style="text-align: justify;">
A história de hoje é sobre um cara que eu conheci aqui em casa há mais ou menos um mês. Algumas coisas em comum, mas como somos diferentes!</div>
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Matheus é um cara bacana. Menino pacato, estudante de Direito, ele mora num apartamento alugado pelos pais num lugar super bem localizado para que ele tenha conforto e consiga estudar em paz, sem se preocupar com barulho de festas, bagunça desnecessária ou qualquer coisa que possa atrapalhar o bom rendimento nos testes pelos quais ele tem que passar diariamente neste mundo jurídico cheio das interpretações, letras de lei e correntes doutrinárias, coisas que importam e caem na prova dos concursos.</div>
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A propósito: Matheus é mesmo um cara que estuda. Mas ele sabe ser objetivo e estudar realmente o que faz sentido estudar: questões jurídicas. As críticas que ele faz ao curso é que os professores embalam em algumas coisas que não têm nada a ver e que não vão importar na hora que o examinador te pedir para responder uma questão objetiva. Esse negócio de ficar pensando, divagando muito não dá certo. Tem que ser bem incisivo. Direto ao ponto. E não me venha com Direitos Humanos, sociologia, antropologia. Filosofia e economia então, Matheus corre léguas, principalmente se tiver matemática no meio.</div>
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Ele é tão focado que não gosta de papos muito cabeça, de quem 'frita' com teoria política, livros e mais livros de história, filmes cult e documentários. Mas se vierem falar bem do governo perto dele, sai de baixo. Com certeza que ele vai alcançar com a panela. Não consegue admitir quem não vê a realidade do país! Não consegue perceber a inflação? O preço das comidas, dos drinks que ele costumava comprar para aliviar a tensão do semestre pesado (afinal de contas, tem que beber pra afogar as mágoas e relaxar de vez em quando, né? Pelo menos uma vez no mês, talvez num final de semana). Olha o dólar então!</div>
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Falando em dólar, recentemente Matheus foi para a Disney. Trouxe de lá algumas coisas de lembrança, como porta-balas do Star Wars. Ele ficou muito feliz de ter ido e poder reviver um pouquinho de infância que ainda resta no seu coração. Esses lugares são especiais, não é? Fazem a gente lembrar de algumas coisas que são tão gostosas. Mas a vida, para Matheus, não é assim. Ela é bem dura. Por isso que, todos os dias, se esforça para que seja um bom profissional e consiga passar num concurso pra ganhar bastante e ser respeitado. Mas se não der certo, ele fará a prova da OAB e, qualquer coisa, vai advogando até passar. Afinal de contas, não existe almoço grátis e estabilidade é muito importante. Para te dar segurança e ser alguém na vida.</div>
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Matheus não tem tempo para praticar qualquer tipo de exercício físico regular, porque precisa estar pronto. Logo mais ele vai formar. Isso não impede que ele fique com uma ou outra gatinha nas "festas open" que ele vai, afinal de contas, ele é da 'direitoria'. Muitas vezes fica com gente da própria sala ou do próprio curso, porque as festas que costuma ir são mais as que o pessoal do curso faz, sem se misturar muito. Chega lá, bate uns papos sobre as provas, as aulas, dá risada dos causos dos professores ou de coisas que acontecem nos estágios, bebe pra caramba até ficar tonto, mas sem dançar para não pagar micão. Depois vai pra casa passar mal e reclamar da ressaca, mas tudo bem.</div>
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Matheus é uma figura. Ele não existe.</div>
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E não existe mesmo.</div>
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'Matheus' foi como um senhor que veio ver o apartamento onde eu moro para comprá-lo me chamou no dia seguinte em que me viu na rua. Ele não lembrava meu nome. Quando veio aqui, ele resolveu fazer deduções sobre quem eu era e o que eu tinha feito a partir do curso que eu disse que fazia, das coisas que eu tinha de decoração na minha casa e de outras coisas que ele me perguntava e que eu respondia, sem que ele prestasse atenção, e que acabava deduzindo errado e perdendo o interesse em saber (como se tivesse algum). Ele tentou ser simpático e não empático. </div>
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Não estava tentando estabelecer uma conexão honesta e por isso assumiu julgamentos sobre o que eu era e o que queria ser a partir da visão de mundo dele, já que era formado em Direito e afirmava objetivamente que eu ia tentar concurso. Falou que eu tinha ido à Disney quando viu os presentes que eu ganhei da minha prima que deixei ornamentando a minha casa. Ele poderia ter feito de outra forma e me conhecido de verdade(e eu também), mas esse não era o objetivo dele. Ele estava aqui para ter uma visão superficial do apartamento e de quem poderia ser seu inquilino.</div>
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No fim das contas, do Matheus ali em cima eu só tenho o mesmo curso e o apartamento. De resto, acho que não conseguiria nem ser seu amigo. Tudo bem pra mim. Por aqui, já fui chamado, por engano, por muitos nomes: Matheus, Bruno, Davi... A gente carrega consigo estereótipos que não nos pertencem e que nem sabemos que carregamos. E quanto mais somos superficiais, menos nos livramos deles. <br />
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-48156584805932716892016-04-04T14:33:00.004-07:002016-04-04T14:33:40.049-07:00Cargas desnecessárias<div style="text-align: justify;">
Alguma vez já abriu a sua mochila ou bolsa e percebeu que tinha um monte de tranqueira que você não utilizaria naquele momento, mas que mesmo assim você carrega consigo porque "pode ser que eu precise"? Será que já aconteceu de você se arrepender de ter carregado aquele peso todo por nada depois de um tempão fazendo um esforço a mais para isso? Eu já. Dói as costas e machuca os ombros. E aquilo fica martelando na cabeça até você conseguir se livrar daquilo (e se perdoar por ter carregado aquele monte de entulho por tanto tempo, sendo que não faz sentido algum).<br />
<br />
Durante o final de semana, fui tirar fotos de uma amiga e carreguei minha mochila cheia de coisas. Tinha de tudo: toalha, caderno, protetor solar (que abriu e fez lambança), dois óculos, fones de ouvido, agenda, estojo, entre outras mil coisas que eu poderia listar, mas que não fazem a diferença. Cheguei lá e coloquei minha mochila na cadeira enquanto nos preparávamos para sair. Quando estávamos partindo, coloquei a mochila nas costas, no automático. Minha amiga questionou, meio que de rompante, o que eu estava pensando que ia fazer carregando aquilo. Realmente, não tinha pensado como era desnecessário. Naquele momento eu precisava apenas dos meus óculos, da câmera e talvez um boné para me proteger do sol forte. No fim das contas, o que eu precisava mesmo era só da câmera e de confiar nas minhas habilidades.</div>
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<br /></div>
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Dessa história deu para refletir um tanto. Imagina a quantidade de coisas, ideias que a gente carrega na nossa cabeça, sentimentos guardados no coração, tudo entulhado nas nossas vidas e que, na maioria das vezes, não fazem sentido para o momento, para a relação ou pra existência como um todo. Sem viajar muito, o que eu quero dizer é que parece que tudo tem recebido tanto peso extra, nada pode ser o que simplesmente se diz ser. Se a pessoa diz que é rica, que é gay, evangélica ou até que é contra o impeachment, logo em seguida desses adjetivos vem uma enxurrada de outros adjetivos ou probabilidades que constroem um imaginário em relação àquela pessoa, que pode muito bem não ter nada a ver com ela ou com sua história. Isso não é saudável. Isso é colocar, em si e no outro, um peso extra na consciência. A pessoa quer se identificar como X e fim. Se identificar como X não quer dizer que por causa disso ela também é Y, Z, G, H, P ou D. Nem que é contra essas outras letras.</div>
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<br /></div>
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Da mesma forma, se eu digo que não sou gay, rico, que não voto na Dilma ou algo assim, não quer dizer que eu seja exatamente hétero, pobre, voto no Aécio (ou Bolsonaro), etc. Me deixem ser e não ser, gente. E sem criar caso com isso. A rotularização pode até ser importante de um ponto de vista político para a conquista de direitos de grupos com caracteres semelhantes, mas é cruel com quem não quer carregar mais um peso para sua existência, de ter que definir a vida por letras e lugares comuns. </div>
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Se alguém te diz que é ou não é X, por favor, não assuma que essa pessoa é qualquer outra coisa além de ser ou não X. Fazer o exercício de se livrar das associações é muito bom, tanto para o seu interlocutor quanto para si, pois retira o peso desnecessário de ser ou ver no outro algo que pode não existir. E se por ventura existir, vai ser mais fácil de lidar sem ter que fazer associações. Uma coisa de cada vez. Um adjetivo por turno. Uma pessoa que não tem nada a ver com a outra. Casos distintos, fardos diferentes. Não vivemos em preto e branco, mas em várias frequências de ondas, sejam em escala de cinza ou em cores vivas. É isso.</div>
<br />
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<br /></div>
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-58612902857853686192016-03-13T07:47:00.000-07:002016-03-13T07:49:57.395-07:00Juliet<div style="text-align: justify;">
It was saturday afternoon (...) </div>
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<br /></div>
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Sim, assim começou esta história. Meu eu em inglês pensava num romance policial que só poderia ser escrito naquela língua. Se mais frases assim aparecerem daqui para frente, saiba, car@ leitor@, que pode ser uma das minhas várias personas se manifestando sobre o ocorrido. O que importa é que, de agora em diante, é uma história verdadeira. Não em sua trajetória, mas em seu conteúdo emotivo. Juliet é uma das várias histórias que quero contar com nomes que fazem sentido para mim e minhas personas, mesmo que sejam apenas nomes fictícios para dar personas a pessoas que existem de verdade. Tentarei negociar com essas figuras para que tudo fique o mais compreensível possível, já que seria humanamente impossível entendê-las fora do meu contexto.</div>
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<br /></div>
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Se me permite, vou retomar a narrativa. Agora em outra língua.<br />
<br />
(...)</div>
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estava escuro no quarto. Propositalmente escuro. De alguma forma, aquele clima artificialmente produzido ajudava a colocar os pensamentos em ordem, por mais que fosse um momento de instabilidade profundo. Vindo de um sujeito cujas lágrimas caem com dificuldade, ou que simplesmente não caem, pois secam antes que atinjam pontos mais baixos do rosto, aquele momento seria de completa derrota para um ego orgulhoso.<br />
<br />
Não foi por mero acaso. A manhã fora de uma tranquila e afável tentativa de ser amável e cordial para um turbilhão de ódio e desentendimento. O quebra-cabeças havia, enfim, sido resolvido, mas a figura final era horrível, como as obras do Romantismo de segunda geração. A carga de ódio, rancor e a ânsia de se sentir livre de um tormento eram marcantes naquela carta-resposta que recebi de alguém que nunca imaginei que um dia faria isso, principalmente dessa forma. Juliet tinha, enfim, arrancado o caco de vidro que estava preso em seu coração (e no meu).<br />
<br />
A história começou há um ano, quando nos tornamos confidentes por correspondência. Foram algumas semanas, talvez meses, de troca intensa e prazerosa. Uma relação de amor construído, mas que antes fora descoberto através de coisas em comum e mais ainda por nossas diferenças. Juliet é um verdadeiro espírito livre, e é isso que me faz admirá-la tanto. Com ela aprendi a soltar algumas amarras feitas de culpa e medo da felicidade.<br />
<br />
Mas suas limitações pessoais e o espaço que ocupa na vida das pessoas permanecem como um mistério. Era assim que eu a via. Mas nossa conversa chegou a outro patamar e pensei que, dali para frente, a conexão já seria boa o suficiente para poder me aproximar e compreendê-la em seu mundo. Acabei me abrindo de uma forma que talvez tenha sido demais para que ela suportasse. Quando me perguntou algo crucial para que a relação pudesse florir de forma definitiva, a resposta pareceu não agradá-la. Eu não poderia mentir sobre o que sou ou o que sinto, pois isso seria a ruína para qualquer fundação. Desta vez, a verdade foi o que abalou as estruturas. A resposta dela para o que eu respondi foi aparentemente positiva, mas suas reações posteriores foram extremamente o inverso.<br />
<br />
As escusas começaram a surgir, a frequência com que nos falávamos também, até o ponto em que, por amor (inclusive próprio), ela pediu que deixássemos de nos falar.<br />
<br />
Fazer isso seria um grande sacrifício para mim, mas tentei da melhor forma que pude atender ao pedido. Porém, a métrica de Juliet era totalmente diferente. Ela foi incrivelmente paciente, tendo em vista que o seu parâmetro de tempo e espaço é muito mais amplo que o meu. O problema é que, ao que tudo indica, forcei demais e adentrei suas fronteiras além do suportável. <br />
<br />
Ela agiu da forma mais discreta e silenciosa possível, mas, infelizmente, desta vez, treinei meus sentidos para não ser pego de surpresa, o que, inevitavelmente, acabou me fazendo descobrir que Juliet tinha, enfim, dado um fim à toda a trajetória que havíamos construído e que não queria que eu estivesse comemorando com ela, nem como espectador, as suas próximas vitórias. <br />
<br />
Não pude me conter. Falei o que estava sentindo e que queria muito entender o que levou a tal situação. Fui completamente ignorado e isso me fez perder o sono e a paz por alguns dias. Então juntei as forças que ainda me restavam e canalizei para enviar um último apelo, uma súplica feita com todo o amor que eu pudesse reunir, por mim e por ela. Pedi que não ignorasse meu último pedido.<br />
<br />
A resposta foi aquela, da qual falei anteriormente. Juliet rasgou meu coração com uma faca envenenada pelo medo, pelo rancor e o desespero de se ver livre de algo que lhe fazia mal e que poderia acabar de destruir a sua vida e de quem estava por perto. Juliet havia feito associações em sua mente que nem nos meus piores momentos eu poderia me imaginar fazendo. Eu havia ido longe demais na sua fronteira e ela havia destruído tudo que ainda restava do meu coração perdido por aquelas terras.<br />
<br />
Por fim, Juliet se foi, sem vestígios. O que sobrou foi um resquício de seu gosto amargo ao final da história. Passei o dia tentando expurgar esses sentimentos que não me pertencem, mas as manchas feitas por eles são difíceis de limpar. <br />
<br />
Juliet me disse para viver minha vida e esquecer que ela sequer um dia existiu. Me mandou sair da vida dela e fez o que pode para garantir que isso iria acontecer, querendo eu ou não. O problema, Juliet, é que você deixou marcas. Elas fecham, mas ficam as cicatrizes.</div>
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<br /></div>
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Escolhi seguir pelo menos um conselho dela. Saí do quarto escuro e fui viver minha vida. Tentar me limpar um pouco daquilo que tinha me feito sentir, como se fosse a pior pessoa deste mundo. <br />
<br />
E quero te agradecer, de coração: você me permitiu fazer isso. Eu te desejo amor para curar essa mágoa e para que possa viver plenamente. Conseguiu me ensinar mais uma das tantas lições destes meses que pude conviver com você: nada vai embora até que tenhamos aprendido tudo o que pudermos com el@.<br />
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-31449250232636281752016-01-08T19:50:00.003-08:002016-09-22T05:29:11.928-07:00Mando nudes.<h3 class="graf--h3" name="03ad">
</h3>
<div class="graf--p" name="2f4a" style="text-align: justify;">
Eu sei, o título é comprometedor. As imagens mais ainda. Este texto inteiro pode causar um alvoroço. Mas não seria eu se dissesse que não está tudo bem. A verdade é que o mundo (digital, principalmente) tem ficado tão chato que essas coisas acontecem e aparecem toda vez que o somatório do tédio acumulado ultrapassa a força da razão coletiva. Ou seja, numa escala digna de Schopenhauer, a longo prazo, todos estaremos nus.<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
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<div class="graf--p" name="2f4a" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="e22a" style="text-align: justify;">
Me chamou a atenção um vídeo postado pelo Mark Hewes no canal Vlogue e a repercussão que surgiu a partir das cenas dele posando nu (coberto por balões) no início. Muitos comentários sem noção dizendo “onde está o conteúdo?”, “só usa o corpo para aparecer”, entre outras formas incisivas de criticar a presença do seu corpo nu num vídeo do YouTube. Algo que, como conversamos depois, ninguém deve querer ver na vida, né? A nudez deve ser algo extremamente abominado pela sociedade, não é mesmo? Vamos perguntar para as propagandas de cerveja.</div>
<div class="graf--p" name="e22a" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="686a" style="text-align: justify;">
Por que a nudez, algo mais antigo que o próprio ser humano, é tratada como algo que incomoda? Diga-se de passagem, a masculina é tratada entre os próprios homens como algo indiscutível, velado e solitário. Conhecer o próprio corpo é uma bênção condenada e o alheio pode ser heresia. Mas, como bem disse o Mark, estamos numa época em que as pessoas pedem ‘nudes’ o tempo todo. Para quem não sabe, ‘nudes’ são fotos eróticas. Coisa tão antiga quanto a invenção da fotografia, mas agora massificada graças à revolução digital (porém ainda muito velada - “você faz isso, Isabel?”).</div>
<div class="graf--p" name="686a" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="9ae4" style="text-align: justify;">
O desencantamento do mundo é algo que me fascina. Weberianamente falando, o processo de racionalização do mundo, das ciências, da religião, política e tudo o que circunda a vida humana faz com que toda a magia que envolvia o conhecimento e a cultura em geral vá se dissipando, destruindo as concepções sobrenaturais, intangíveis e ininteligíveis e substituindo por regras e postulados que buscam entender as coisas. </div>
<div class="graf--p" name="9ae4" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="7c7b" style="text-align: justify;">
O problema é que essa sede pelo domínio do Universo também gera uma cisão numa das mais humanas esferas existenciais, que é a sensorial. O homem trata de separar o mundo humano do mundo dos deuses, cria patamares superiores de existência que só serão alcançados após a morte e assim vai se tornando um casulo que aguarda para dar a luz a um ser em comunhão com o divino (até então desconhecido, pois não se encontra na mesma esfera de seus sentidos físicos). E, como todo bom casulo, quanto mais guardado e seguro, melhor. Mas a biologia evoluiu e existe para nos dizer que não somos casulos e sim partes da teia da vida, que só se sustenta se houver contato, conexão. TATO.</div>
<div class="graf--p" name="7c7b" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="bfa3" style="text-align: justify;">
Os gregos antigos, os indígenas e outros povos os quais os registros marcam mais de 2 milênios possuíam formas de cultuar o corpo, a nudez e as relações entre as pessoas (sim, homens, mulheres, pessoas de ambos os sexos ao mesmo tempo e de preferências mil) de maneira natural e celebrada. Quando faziam algo que fosse tido como ruim, o destino cuidava para que fossem devidamente castigados, na eterna lei do retorno. E, no fim das contas, as dores e os prazeres eram compartilhados. Não era necessário sofrer sozinho, pois seus deuses estavam no mesmo plano que as suas angústias. Hoje, estamos todos em outros planos. Cada um no seu universo particular, no casulinho envolvido pelas normas e crenças que foram juntadas de geração em geração. Como os velhos trapos que escondem o Buda de ouro.</div>
<div class="graf--p" name="bfa3" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="2057" style="text-align: justify;">
Mas o corpo ainda é corpo<br />
E o pulso ainda pulsa.</div>
<div class="graf--p" name="2057" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="1a51" style="text-align: justify;">
E, involuntariamente, como todo ser carente, vamos encontrar uma brecha nesse casulo alguma hora e perguntar “me abraça?” (ou ‘manda nudes’, como preferir).<br />
<br />
P.S.: o link para o canal do Mark é esse aqui ó - https://www.youtube.com/channel/UCvMt0qGFmEG_RFr93I3s_Kw - Acesse! Tem muitas coisas bacanas.</div>
<div class="graf--p" name="1a51" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="1a51" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
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</div>
Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4890590607353993068.post-74018426700992618892015-11-29T17:47:00.001-08:002015-11-29T17:55:51.978-08:00Ho'oponopono <div style="text-align: justify;">
A primeira vez que tive contato com a cultura havaiana foi na infância. Assistia desenhos variados que demonstravam pessoas que curtiam a vida e dançavam hula com folhas penduradas na cintura. Aquilo de certa forma me parecia familiar, porque passei grande parte da minha vida morando do lado da praia e conhecendo gente que vive com seu lugar ao sol garantido (ou na sombra, para quando o sol está de rachar), com muito trabalho, mas sempre de bom humor. Gente que parecia viver bem consigo mesma e com toda aquela beleza natural ao seu redor. Coitado de mim: desde pequeno parecia "tão de humanas"...<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://images2.fanpop.com/images/photos/5400000/Stitch-Wallpaper-lilo-and-stitch-5446550-800-600.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://images2.fanpop.com/images/photos/5400000/Stitch-Wallpaper-lilo-and-stitch-5446550-800-600.jpg" height="266" width="400" /></a></div>
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Quando a Disney resolveu criar Lilo e Stitch soltaram numa propaganda de TV que seria "somente nos cinemas" (sério, parem de fazer esse tipo de propaganda enganosa). Eu desesperei querendo viajar para assistir, pois na minha cidade o que existia de mais próximo de um cinema era o aparelho de DVD na casa da minha madrinha (muito raro, na época). Depois que descobri a farsa da propaganda da Disney e pude alugar o filme para ver, fui apresentado a uma história muito divertida que, naquela época, não consegui captar literalmente a sua mensagem, mas produziu sentido na minha vida e, sobretudo, na minha memória. "'Ohana' quer dizer família; Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer."<br />
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Os havaianos têm uma língua própria que contém palavras com significados profundos e diversos. Ao mesmo tempo, são bem simples. Imagine você falar uma língua em que a mesma palavra usada para dizer "oi" significa "amor" (além de tantos outros bons sentidos). 'Aloha' parece ser, de longe, a palavra mais utilizada pelos falantes do ‘Ōlelo Hawai'i, o que acaba por produzir boas vibrações entre os seus interlocutores. <br />
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Às vezes eu me pergunto qual seria a palavra mais dita no português (minhas apostas estão entre o "eu", "mas", o "porque" e suas variantes, e "porra", fora órgãos genitais em suas denominações chulas). <br />
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Retomando, uma cultura que tem como palavra principal o "amor" só pode ser muito nobre. Fui então pesquisar um pouco mais sobre esse povo lindo e sua língua. Já ouviu falar na técnica Ho'oponopono? A expressão pode significar "consertar um erro" (alguns dizem que significa "amar a si mesmo", o que não é a literalidade, e sim uma interpretação tendo em vista a técnica e seus objetivos). Os antigos havaianos (que já aplicavam Ho'oponopono como uma forma de conciliação) diziam que quando uma pessoa comete um erro este pode acabar gerando enfermidades, pois produz bloqueios em sua esfera espiritual. <br />
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Digamos que o erro não é bem no sentido extremamente negativo da palavra, mas sim algo que todos estamos propensos a fazer e sentimentos a acumular, inclusive inconscientemente. A técnica moderna do Ho'oponopono é como uma oração de perdão e amor (por si e pelo sentimento). "Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Sou grato." Quantas vezes já disse isso para outra pessoa? Melhor: quantas vezes disse isso para si mesmo? Do fundo do seu coração. Se não o fez, experimenta agora!<br />
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São coisas simples. Fazem bem. Curam. Os havaianos me ensinaram muito no pouco que pude aprender sobre eles e seu idioma nativo. Foi como um filme da Disney: mensagens profundas apresentadas de maneira singela e inocente. Aprendi a desejar o amor para as pessoas com a mesma frequência com que as cumprimento (mesmo que elas não entendam ou percebam que estou fazendo isso). Aprendi que desatar os nós pode ser uma tarefa árdua, mas que precisa ser feita para seguir em frente (e que para desfazer o nó tem que se puxar por dentro). No fim das contas, aprendi com Lilo e Stitch sobre diversidade, amor incondicional e que os laços que fazemos aqui, se forem fortes o suficiente, são para além deste plano.<br />
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Porque a existência é feita de amor. E uma vez conectado com essa verdade, fica mais fácil não perder o contato, mesmo que sua 'ohana' acabe se mudando para outra galáxia, pois estamos na mesma frequência.</div>
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Lucas Berdaguehttp://www.blogger.com/profile/14004998530904584287noreply@blogger.com1