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Pentelho egoísta

Foi numa dessas horas de paz interior aflorada que alguma coisa me incomodava. Por algum motivo, de cinco em cinco minutos era como se um reloginho tocasse na minha cabeça dizendo que é hora de fazer alguma coisa que eu não tenho a mínima ideia do que é. Eu olhava então fotos para ver se alguma ou alguém nelas me daria uma pista do que aquele pentelho chamado intuição estava dizendo para eu fazer nesse momento.

Esse ciclo se repetia devido a minha não insistência de tentar entender o que era, mas como todo bom pivete chato, o sentido não deixou meu pé, ficava ali fazendo cócegas infernais tentando me contar alguma coisa que eu realmente não conseguia entender o que! Bicho chato esse negócio chamado amor.
 
Ele não sabe o que quer, não sabe ser instrutor. Não ajuda a quem está incomodando nem incomoda quem quer que seja incomodado de verdade. Ele não te dá chaves para ligar o carro até o outro lado. Ele te manda fazer ligação direta e não lhe dá manual! Com o tempo, é possível que você aprenda e faça seu próprio guia, mas se não sair da primeira, ele também não te demite. Vai ficar em cima de você, indo e voltando até que você tenha feito alguma mágica acontecer e conseguido ligar os fios na cara e na coragem.

Felizmente ele te disponibiliza coisas interessantes durante esse tempo: momentos de viagem, numa profunda sensação de êxtase quando sente que tá dando certo. Tenho que admitir: é um bom patrão. Sabe incentivar.
Talvez seja um problema quando você tenta trabalhar em conjunto com seus colegas mais experientes: uns vão conseguir derrubá-lo de quaisquer intenções mais nobres. Outros vão criar de sua podre mente em devaneio um mapa para o sucesso. É interessante saber selecionar nos dois lados.

Enfim, depois que a ligação for feita, logo poderá receber uma promoção ou ser remanejado para outro setor. Das duas formas, você ainda terá um pentelho no seu pé. Só que dessa vez, estará mais feliz e já conhecerá as manhas para fazer a ligação em outras situações.

Seja como for, o amor é egoísta. Ele não gosta de ter como prata ou ouro quem ele via como diamante. E isso pode ser um grande problema se sua intenção é não perder aquela pessoa tão querida. Afinal, tê-la por perto mesmo querendo-a só para si pode ser melhor do que o risco de não tê-la de forma alguma depois de fazer uma aposta errada. Tem gente que diz que vale a pena arriscar. Queria eu saber jogar na bolsa!

Ainda assim, Nando Reis já dizia:

“Não sei se o mundo é bom
Mas ele ficou melhor
quando você chegou
E perguntou:
Tem lugar pra mim?”

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