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Politicamente au contraire


Mestre Chico dizia: “não tenho medo de morrer. Tenho pena.” Talvez fosse por deixar milhares de fãs para trás, talvez fosse a impossibilidade de produzir novidades cômicas para eles ou até por pensar que outros não fariam nada disso dali para frente. Da forma como andam tratando o humor, muito provavelmente Chico estará chorando em seu leito de madeira a sete palmos do chão.

Digamos que o efeito de rir é consequente de situações inesperadas: uma casca de banana no chão que faz alguém cair, uma pessoa conseguindo imitar a outra de forma bem parecida, realçando traços marcantes da personalidade do personagem, ou até mesmo fazendo uma crítica sincera e/ou dizendo algo que os pudores gerais não permitem. O humor seria então uma forma, assim como a música, de se revolucionar com aquilo que em uma conversa formal não se pode conter: a liberdade de expressão e de se expressar.

Formalizar as piadas seria então remover do artista que a faz a liberdade de escolher como trabalhar. Numa alegoria simples seria dizer ao pintor com quais cores e formas ele não pode fazer um quadro, algo que pode ser comparado à tortura, visto que obras de arte são em geral frutos de subjetividades e momentos, e reprimi-los seria a maior punição para o artista. 

Claro, o artista deve saber quando, onde e por que fazer a piada, mas esse é o produto dele! Segue as leis do mercado: se há gente que o compra (em massa), continuará a produzi-lo e vende-lo. O que deve ser feito é uma mudança na mentalidade ou autoconscientização dos consumidores dessas piadas. Claro! Se alguém não gosta de amarelo, não comprará um quadro de girassóis, ou se comprar, terá seus motivos para pendurar ou não na parede da sala.

Agora, que tal parar de pensar no que o Rafinha Bastos “come” ou não e votar nas putas? Porque nos filhos delas não deu certo e como dizia o deputado Tiririca: “pior do que tá não fica.”

(texto feito a partir da proposta de redação da UFES 2012)

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