Numa conjuntura em que há merda ensopada ou merda assada num
cardápio, você prefere comer merda ou mudar de restaurante a fim de uma
refeição digna? Digamos que você, assim como eu, recebe um amigo em casa e ele
lhe pede água: você vai lhe servir água da privada e alegar que ele não disse
de onde queria a água? Ou será um bom anfitrião e oferecer-lhe do seu melhor?
Hoje em dia é comum querermos tratar as relações
interpessoais como contratos: se não há cláusula para isso ou aquilo, há ou não
há abertura para fazer tais coisas. Dependendo do texto temos a obrigação de
achar brechas no contrato para nos favorecermos e pisar no outro mesmo que este
seja seu amigo. É assim que supervalorizamos os profissionais de direito e hipertrofiamos
esse mercado. É assim que crianças processam pais por serem corrigidos,
delinquentes juvenis sabem mais de constituição do que estudantes de 8º
semestre e amizades tornam seus laços tão finos quanto uma teia de aranha,
podendo ser destruída e tecida várias vezes sem ao menos haver importância com
a pobre da pessoa-aranha que tenta mantê-la bonita e inteira.
Esses novos modos têm dado suporte e sido suportados
principalmente pelos recursos de comunicação da nova era e pela nova ordem mundial
de terror. Mensagens a todo o momento são enviadas para você dizendo que nem na
sua sombra você pode confiar, já que seu único fator de segurança é seu
dinheiro. O legal é que o dinheiro pode ser trocado por outros valores de
acordo com o contexto, como cargos, pontuação, vendas, e demais coisas que
também têm como objetivo o próprio dinheiro e/ou status.
Qual o problema disso? A meu ver, o dinheiro não vai te
abraçar quando estiver triste, não vai te ajudar a dar um soco na cara do
malandro que te sacaneou, não vai rir contigo daquela piada idiota, nem mesmo
vai te dizer “eu te amo” com um “até o fim dos nossos dias” numa mesma frase e
de forma sincera. Ele pode até comprar o abraço do puxa-saco, contratar um
gangster, um idiota profissional para rir de suas anedotas ou até mesmo um ator
para dizer que te ama, mas não vai te comprar aquele puxão de orelha na hora
que você precisa, nem o pulo nas costas quando você menos espera e dá aquele
sorrisão!
Então deixe de ser medíocre! Esteja medíocre quando for
preciso e viva a vida como se ela nunca precisasse ser comprada. Comece a
prestar atenção nas coisas que fala com os outros. Olhe os outros! Valorize
quem te valoriza e sabe te botar para cima, mas que também sabe fazer as
críticas certas na hora que você pode e deve ouvir. Essas pessoas não vão
querer nada de você, pois só seus amigos o fazem. Largue mão dessa besteira de
que em tudo você é vítima e que se te sacanearam precisam comer o capim pela
raiz, seja superior a isso. Afaste-se daquilo que te deixa artificial e procure
aquilo que te deixa mais confortavelmente natural possível, ao ponto que não
precisará esforço para continuar com isso. Por fim, não se iguale ao dinheiro.
Ele não tem amigos, só tem gente interessada no valor dele.
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