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Hora de arrumar as malas

"Mais uma jornada se encerra na história de Ash e seus amigos, agora se preparando para as próximas aventuras enquanto acerta os últimos detalhes no laboratório do professor Carvalho. Ash se prepara para uma nova região, com novos desafios, líderes de ginásio e novos pokemon a conhecer durante um novo tempo que se inicia."

Assim como o que ocorre com o Ash, que a cada nova geração lançada larga tudo o que construiu e começa uma nova jornada, é o que acontece com a nossa vida diante de novas fases. Novos desafios são incluídos na nossa pokedex, novas insígnias precisam ser conquistadas para provar seu valor e há sempre aquele gostinho de vencer a liga sempre que possível.

É triste imaginar que algumas figuras têm de ser deixadas para trás no laboratório do professor Carvalho, mas é preciso. Imagine que graça teria se limitassem a quantidade de pessoas a se conhecer e de amigos para se fazer só naqueles lá da infância. Bem difícil imaginar como manter o contato com esses velhos amigos, mas pior ainda seria ficar sem nenhum por perto, já que tem gente igual o Charizard, a gente não se imagina sem, mas ela não pode seguir com você para onde você for. É por isso que essas pessoas Charizard a gente deixa voar, porque sabe que quando você mais precisar, elas vêm e te levantam pra ver as estrelas de novo.

Outra coisa boa é que aqueles que você não quis capturar não baterão mais na tua porta toda hora. É a hora que você vai poder economizar no repelente e aproveitar mais a tua vida sem se encher com aqueles uns que você conhecia de tempos e que voltavam sempre para te atormentar.

Como falei ali em cima, você aprende bem a selecionar e deixa livre aqueles que você sabe que pode contar com eles sempre que precisar. Fora aqueles que você sabe que é só falar pelo chat mais próximo e que logo mais não vai sentir tanta saudade, tipo o Muk do Ash, que sempre pula no ombro do professor pra mostrar que tá vivo e que ama ele. Se você der muita sorte, você terá um daqueles amigos Pikachu, que nunca vai te abandonar e que muito menos você vai querer largar dele. E que, por acaso, você gosta dele ao ponto de não dar descanso.

Mas é arrumando as malas que você entende e percebe algumas coisas: sua mãe sempre estará meio emocionada com a ideia da partida e vai fazer de tudo pra te mimar (algumas vezes é como um "não vai, por favor"); Sua casa sempre vai estar ali para que você volte e se renove, reveja aqueles que cativou e não deixe de reencontrar velhos rivais, que agora nem mais importam tanto assim; por último, você percebe que se passaram tantas jornadas e você ainda se lembra como se fosse ontem de como é ter cerca de 10 anos (piadinha pro Ash). E como tudo valeu a pena.

Então vou ali pegar umas pokebolas, dar um beijo nas pessoas que vão sentir minha falta e preparar para uma nova aventura. Pode não ser a mais emocionante, talvez nem a que dê mais IBOPE, mas posso ter certeza que valerá a pena. E que todos aqueles que um dia eu capturei, seja por um abraço, um conselho, ou até mesmo um sorriso, esses não me deixarão na mão, logo mais quando a batalha da saudade puxar.


"- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."

- trecho de O Pequeno Príncipe

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