Já escutei nas histórias sobre os romanos a expressão carpe diem. Minha professora, uma das pessoas mais sábias que já tive o privilégio de conhecer, com uma aura de Minerva que a circunda, sempre diz que não há mais passado, nem futuro, apenas o presente, o aqui, o agora. Não é do nosso domínio o que não dá para sentir no momento. Mário Sérgio Cortella diz que passado é referência, como se fosse um retrovisor, e que o futuro é um para-brisas, em que você só pode vislumbrar o que vem pela frente. Mas domínio é uma coisa que não se pode ter quando se trata de um lugar chamado Saudade.
Saudade é um lugarzinho que não está no mapa. Não confunda com o município de Saudades - SC, muito menos com o rio de mesmo nome que passa por lá. Saudade é um evento espacial e temporal que não se tem muitos estudos na física, mas que talvez as ideias de viagem no tempo e de teletransporte possam colaborar nessa jornada que teremos a frente pelo texto. Além disso, seria de grande ajuda se descobrissem também um algoritmo pra ver os sentimentos dos outros quando enviassem uma mensagem, porque aí esse evento poderia, ao mesmo tempo, ser compreendido e solucionado.
Não sei dizer se é algo exclusivo (tendo a pensar que não), mas a saudade aparece que nem aquelas miragens que se formam na pista quando está muito quente. Ela surge com mais frequência quando estamos mais enfraquecidos, mais incomodados, inquietos ou até mesmo quando tem gente demais ao nosso redor, mas continuamos sozinhos. Saudade é, além de um lugarzinho especial onde a gente se enfia nesses momentos, uma ferramenta poderosa de olhar para trás e recuperar a rota. Lembra da anedota do retrovisor? Lhe apresento o do centro. Aquele que você olha, querendo ver como está o geral lá atrás. Que você olha, geralmente, para ver os passageiros do banco de trás.
Se tem uma coisa que não consigo entender, mas que me é recorrente, é a saudade de lugares, pessoas e coisas que não conheci ainda. Não, não é expectativa. Expectativa é algo extremamente positivo! Expectativa é o para-brisas. Essa saudade aí é aquela que a gente tem por intuição do que poderia estar sendo bom, mas que não está com você, ali e agora. Afinal, além dos retrovisores e do para-brisas, o motorista tem que ter uma outra forma de se guiar, seja um mapa, um gps ou as placas pelas quais passa na rodovia. Quem nunca virou correndo o pescoço pra ver se havia outra placa parecida com a que acabou de passar do outro lado da pista? Sim! É possível ter saudades do que não se conhece bem ainda. E como tenho dessas!
No fim das contas, saudade é, ao mesmo tempo, um fenômeno psicológico, um lugarzinho na consciência, uma ferramenta de renovação, um instrumento de tortura, uma miragem na pista, um sinal de referência, um verificador de sorrisos e de brigas (principalmente para quando se tem mais de um passageiro no fundo do carro da sua vida), e quando colocada no plural pode virar um somatório de forças internas e externas que te botam para fazer uma viagem rumo ao que você ama, um município em Santa Catarina e um rio que passa por lá.
Saudade é, então, algo tão humano que a física não vai conseguir, tão cedo, explicar. Só se for a física do contato, ou do olhar que tem aquela química, faltando números para equalizar o sistema que teorizaria o que, nem mesmo usando o alfabeto inteiro, poderia ser descrito num dicionário. Talvez em cifras fique um pouco mais fácil. Mas se for abraçar a saudade, abrace-a forte e depois solte para seguir seu caminho. Porque no fim das contas, ela não é o passageiro ou o destino, mas sim uma parte da sua viagem.
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