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A inveja e a inspiração em pó

Tenho um problema sério e preciso compartilhar: tenho inveja das pessoas na academia (e na rua). 


Pronto, falei! Não tenho inveja de quem quer virar "monstrão" (ou que mete a cara na batata doce e frango), mas tenho de quem tem o corpo esbelto e definido (e que tá super de boa com o molde de escultura grega que tem). Eu olho para as estátuas e depois fico admirando as pessoas que chegaram àquele nível. Às vezes eu até me pergunto como os gregos (ou se) chegavam ao patamar de suas obras e se eram todos daquele jeito.

Fora isso, é bem difícil eu encontrar um objeto de inveja. Talvez só quando vejo gente viajando e esbanjando cultura. E aproveitando o tempo melhor do que eu. Em certos momentos eu invejo quem tem capacidade de estudar e gostar do meu curso, mas passa rápido, é só dar o tempo de eu piscar. Ah sim, e quando falta internet ou água em casa e o vizinho do outro lado da rua tem. Ou quando minhas amigas vão para casa e têm mães que fazem comida para elas (a minha me manda cozinhar para ela). Mas nada se compara com a primeira inveja.

A Fani de "Os Normais" uma vez falou sobre inveja e eu achei genial: de acordo com ela, o que ela tinha não era inveja porque segundo o dicionário "inveja é revoltar-se com a felicidade alheia" e, no caso dela, ela não estava revoltada, ela só queria saber "por que tá todo mundo se dando bem e a minha vida continua esse cocô!" É exatamente o sentimento que eu nutria até um dia desses! Nossa, ela merecia um posto de "filósofa contemporânea" junto com a mãe do Forrest Gump. Se Hollywood soubesse dela, talvez a vida pudesse se tornar algo bem melhor que um cocô...

Mas falando em cocô (que tem a ver com fertilidade para algumas culturas), eu disse ali que o sentimento não é mais esse. A Fani não deve ter descoberto ainda, mas eu tive um insight muito bacana depois de algum tempo de fermentação no "mimimi": um pó mágico. Esse pó é produzido justamente na mesma base da tal da inveja ou da outra coisa que a Fani disse que era, só que geralmente ele é rejeitado. Todo o mundo pode usar se quiser, mas a maioria dá mais valor ao prato principal do que as sobras. 

Ok. Vou chamar esse pó mágico de inspiração.

Já pensou como que as coisas e as pessoas vêm, criam uma intriga e te deixam ali, fermentando o seu ódio/desejo/ansiedade/vontade de esganar o outro/vontade de ser o outro? Tem gente que faz isso sem nem perceber (na maioria das vezes), mas tem quem é profissional nisso. Sempre que isso acontece a gente entra num processo de fermentação naquilo que é popularmente conhecido como "mimimi", "recalque", "humilhação", entre outros. Os produtos deste processo são vários. Um deles é não querer ver a cara de novo. Outro é querer dar na cara dela. Tem outros, mas tem um em específico que eu aprendi a valorizar, que é a inspiração em pó.

Não é que a gente tem que pegar alguém ou alguma coisa como parâmetro ou modelo. É que a gente o faz. Muitas vezes isso castiga um tanto a nós mesmos. A ideia da inspiração em pó funciona assim: você está nessa situação (que é mais comum do que se imagina - até aquela galera que faz fotos "perfeitas" para o Instagram tem recalque em relação a algo ou alguém, a menos que essa pessoa seja a Susana Vieira) e pode escolher se vai ficar remoendo isso até deixar de fazer sentido ou então pode resolver extrair dali a inspiração que você precisa para chegar aonde você gostaria.

A inspiração em pó é uma maravilha, porque ela é instantânea e você pode tomar misturando com água, leite ou seja lá o que quiser beber (não sei se dá pra entrar num drink), além de ser um mero suplemento. E como todo suplemento, deve ser tomado com muito cuidado (além de não ser algo necessário para chegar ao resultado que se quer), sendo um atalho.

A ideia é sempre produzir a própria inspiração, não procurar fora. Como diz a minha mãe, não é nada que uma boa dieta bem equilibrada não faça, com o próprio organismo se desenvolvendo naturalmente. Mas se acontecer de dar uma escorregada no caminho da felicidade autêntica, é melhor produzir inspiração em pó do que um monte de "mimimi".

Mas fica a dica: use com moderação! Qualquer produto da inveja (ou seja lá como queira chamar) pode acabar sendo prejudicial à saúde se usado como fonte principal de felicidade. E, cá entre nós, "VEEEEEM MONSTRO" não é um bom slogan.

P.S.: o vídeo da Vani é este aqui ó - https://www.youtube.com/watch?v=wAe7faH-Lo8

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