"Os olhos são a janela para a alma", já ouvi milhares de vezes e também já o disse. A gente transparece demais por nossos olhos. Mesmo aquelas pessoas com "olhar de cigana oblíqua e dissimulada". Por isso, leia este texto e depois se olhe no espelho. Quero te convidar para ler entre olhares.
Quando era mais novo, me diziam que eu tinha um olhar de menino carente, que pedia para ser cuidado. Um olhar sereno que dizia para quem olhasse que eu estava ali para trocar experiências boas. Transparecia carinho e um desejo de ser acolhido para poder compartilhá-lo. Olhos brilhantes e inocentes. Doce olhar infantil.
Algum tempo depois os olhos passaram a brilhar de outras formas. Na maioria das vezes dava para ver algo como um clarão que acendia uma chama de fúria e conquista. O coração já tinha adquirido os seus calos para conseguir subir montanhas mais altas e queria, como a maior parte dos adolescentes engajados em buscar o seu lugar no mundo, descobrir o que havia no topo o mais rápido possível. Certas vezes essa chama se apagava e trocava de lugar com um olhar nublado, quase chuvoso. Quem visse poderia pensar que vinha uma tempestade por aí. Só que a tempestade geralmente gerava outro clarão e o ciclo seguia.
Mas quem sobe e não desiste, uma hora chega ao topo. Eu cheguei. E descobri que não era uma simples montanha, mas um vale enorme, cheio de montanhas muito mais altas. O olhar aventureiro começou a se transformar num olhar curioso, mas apreensivo. O que mais amedrontava era o sentimento de que os recursos estavam começando a ficar escassos. E conforme isso foi ficando mais real, mais chovia pelos meus olhos, ao ponto que ficaram como o céu de Londres, nublados sempre, mas não havia chuva o suficiente para cair todos os dias.
Num belo momento, um céu colorido resolveu brotar. Como as coisas ainda estavam meio nubladas e chuvosas, ele trouxe junto um arco-íris em forma de sorriso, com cores que gritavam felicidade e espontaneidade. Meus olhos coloridos começaram a retomar seu tom depois de terem ficado um bom tempo desbotados. Não havia mais clarão, chama ou qualquer coisa que queimasse rápido. Era um lindo céu azul com um sol radiante de alegria. De vez em quando com umas nuvens brancas que vinham para acalmar o calor das horas mais intensas. Mas continuava um céu daqueles que a gente tem vontade de pintar sempre quando está no jardim de infância: muito azul e com o sol sorrindo.
Infelizmente, a gente não consegue olhar direto para o sol e mostrar o quão alegre e grato está. O sol está muito longe e, às vezes, pode sofrer por não poder chegar perto demais. Então ele preferiu se retirar. Diminuir sua intensidade. E assim o sol foi cuidar de outros céus. Inclusive do próprio.
Nessa hora o olhar nublou um pouco, mas não tinha como voltar ao estado anterior, porque ainda estava contagiado por todos os dias de sol. Não precisou de muito tempo para conseguir perceber que não era preciso ter contato direto com o sol para poder enxergar o dia iluminado em todas suas cores.
Minha mãe então me disse que era para eu fazer "olhar de predador", pois as pessoas farejam quem está na caça. Se alguém souber como faz o tal do "olhar de predador", que não seja o do filme de terror, por favor me diga como é. Eu tentei de várias formas, mas o máximo que consegui foi recuperar o meu primeiro olhar de criança pidona.
Já me disseram que nem adiantava tentar fazer outro olhar, porque agora parece sempre o mesmo: como um rio com uma pequena cachoeira - deixa a água cair, vai seguindo o fluxo e acalmando os corações de quem para e presta atenção com um olhar direto e atento. Acho que aprendi o equilíbrio no olhar. Nem um tempo nebuloso, nem um uma louca tempestade de raios. Muito menos predador. Prefiro ser um rio e deixar o sol refletir nas minhas águas quando estiver afim. Enquanto isso, posso seguir e/ou mudar meu ritmo, seja no dia ou à noite, colorindo em aquarela o meu arco-íris sorridente.
Ei, sol. Nunca deixe de brilhar. Nos meus olhos as portas sempre estarão escancaradas para você entrar.
Quando era mais novo, me diziam que eu tinha um olhar de menino carente, que pedia para ser cuidado. Um olhar sereno que dizia para quem olhasse que eu estava ali para trocar experiências boas. Transparecia carinho e um desejo de ser acolhido para poder compartilhá-lo. Olhos brilhantes e inocentes. Doce olhar infantil.
Algum tempo depois os olhos passaram a brilhar de outras formas. Na maioria das vezes dava para ver algo como um clarão que acendia uma chama de fúria e conquista. O coração já tinha adquirido os seus calos para conseguir subir montanhas mais altas e queria, como a maior parte dos adolescentes engajados em buscar o seu lugar no mundo, descobrir o que havia no topo o mais rápido possível. Certas vezes essa chama se apagava e trocava de lugar com um olhar nublado, quase chuvoso. Quem visse poderia pensar que vinha uma tempestade por aí. Só que a tempestade geralmente gerava outro clarão e o ciclo seguia.
Mas quem sobe e não desiste, uma hora chega ao topo. Eu cheguei. E descobri que não era uma simples montanha, mas um vale enorme, cheio de montanhas muito mais altas. O olhar aventureiro começou a se transformar num olhar curioso, mas apreensivo. O que mais amedrontava era o sentimento de que os recursos estavam começando a ficar escassos. E conforme isso foi ficando mais real, mais chovia pelos meus olhos, ao ponto que ficaram como o céu de Londres, nublados sempre, mas não havia chuva o suficiente para cair todos os dias.
Num belo momento, um céu colorido resolveu brotar. Como as coisas ainda estavam meio nubladas e chuvosas, ele trouxe junto um arco-íris em forma de sorriso, com cores que gritavam felicidade e espontaneidade. Meus olhos coloridos começaram a retomar seu tom depois de terem ficado um bom tempo desbotados. Não havia mais clarão, chama ou qualquer coisa que queimasse rápido. Era um lindo céu azul com um sol radiante de alegria. De vez em quando com umas nuvens brancas que vinham para acalmar o calor das horas mais intensas. Mas continuava um céu daqueles que a gente tem vontade de pintar sempre quando está no jardim de infância: muito azul e com o sol sorrindo.
Infelizmente, a gente não consegue olhar direto para o sol e mostrar o quão alegre e grato está. O sol está muito longe e, às vezes, pode sofrer por não poder chegar perto demais. Então ele preferiu se retirar. Diminuir sua intensidade. E assim o sol foi cuidar de outros céus. Inclusive do próprio.
Nessa hora o olhar nublou um pouco, mas não tinha como voltar ao estado anterior, porque ainda estava contagiado por todos os dias de sol. Não precisou de muito tempo para conseguir perceber que não era preciso ter contato direto com o sol para poder enxergar o dia iluminado em todas suas cores.
Minha mãe então me disse que era para eu fazer "olhar de predador", pois as pessoas farejam quem está na caça. Se alguém souber como faz o tal do "olhar de predador", que não seja o do filme de terror, por favor me diga como é. Eu tentei de várias formas, mas o máximo que consegui foi recuperar o meu primeiro olhar de criança pidona.
Já me disseram que nem adiantava tentar fazer outro olhar, porque agora parece sempre o mesmo: como um rio com uma pequena cachoeira - deixa a água cair, vai seguindo o fluxo e acalmando os corações de quem para e presta atenção com um olhar direto e atento. Acho que aprendi o equilíbrio no olhar. Nem um tempo nebuloso, nem um uma louca tempestade de raios. Muito menos predador. Prefiro ser um rio e deixar o sol refletir nas minhas águas quando estiver afim. Enquanto isso, posso seguir e/ou mudar meu ritmo, seja no dia ou à noite, colorindo em aquarela o meu arco-íris sorridente.
Ei, sol. Nunca deixe de brilhar. Nos meus olhos as portas sempre estarão escancaradas para você entrar.
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