Pular para o conteúdo principal

Já faz meia hora

Abri o editor de textos. Já fazia meia hora que estava parado emburrado. A única coisa que me vinha à mente era uma música da Adriana Calcanhoto. Aquela que fala da meia hora. "Você tem meia hora pra mudar a minha vida. Vem, vambora." Não me pergunte por quê.

Fiquei esperando a inspiração chegar. Vi que não estava chegando. Forcei a barra. Há um mês eu tenho forçado a barra. E já faz meia hora.

Não é uma questão simples. Tenho tanto entalado aqui dentro. Pensei que escrevendo conseguiria soltar. O problema é que não consigo colocar esses sentimentos em palavras. Não é entendível o que estou sentindo. E já faz mais meia hora.

Se a Adriana estiver correta, em meia hora minha vida pode mudar. Como tem mudado de meia em meia hora. O humor, o amor, a raiva, o desespero, todos os sentimentos e todas as emoções vêm no campo das ideias, mas não conseguem sair verbalmente. E nisso tudo, só tenho meia hora.

Meia hora. Meio humor. Meio tom. Meio pombo.

Meios. Quais são?

Será que as horas só serão meias daqui em diante?

Acho que vou colocar meias nos pés. Já faz meia hora que chegou o frio. Há meia semana atrás estava um calor sobre-humano; talvez mais que meia semana, uma semana inteira. Estava inteiramente contando horas inteiras, mas sem muita 'inteiresa'. Parece que essas meias horas estão me fazendo chegar mais perto do dia inteiro.

No editor de texto, meias linhas. Meias palavras. Meios entendimentos. Meios sentimentos.
No coração, tudo isso em dobro. Tudo por inteiro e dobrado. Tudo a ponto de explodir. Mas sem achar lugar por onde sair. E já faz meia hora que estou tentando dizer isso.

Por favor, só quero mais meia hora. E mais meia. E mais meia. E mais meia. Talvez saia. Alguma coisa ou eu mesmo saia. É só ter paciência comigo. Eu sei, meu bem, já faz meia hora e eu me atrasei enquanto mudava a sua vida.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esse tempo que não é meu

Hoje, quero escrever simples. Estou vivendo num tempo que não é meu. Há dias que não me sinto dono dos meus dias. Habitante da minha casa. Sujeito dos meus direitos e das minhas obrigações. Vivo agora o ontem do amanhã, que ainda não vejo. Existo, me movimento, mas não sei para onde vou, porque agora dependo do tempo de algo ou de alguém que ainda não tenho como referência. Já escrevi outras vezes sobre o tempo. Em todas elas, a minha relação com essa grandeza da física estava mais afinada. Eu tinha mais segurança para perceber o desenrolar das coisas de maneira contemplativa e analítica. Era possível até desejar. Neste momento, o tempo está levando embora o meu desejo, me acordando antes dos sonhos doces e esticando os prazos da espera por respostas. Foram dezesseis anos de formação técnico-científica: do curso Técnico em Informática, passando pelo Direito, pelo mestrado e pelo doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Mesmo com uma pandemia no meio, esse tempo todo foi meu. Eu me sentia ...

A fuga da paixão na curva da indiferença

3:50 da madrugada. Era quase segunda-feira. Quase porque a noite ainda não tinha cedido. O olho cerrado enxergava um cinco no lugar de um três. Era quase um seis, mas não fazia nem três que havia dormido. Pensei: posso dormir até às 8. O novo sonho do bloco das 4 trazia algumas paixões. Como é da natureza delas, me carregaram com conforto até um "êxtase inebriante", que fez com que meus olhos imaginários brilhassem enquanto falava com um convertido sobre o que me fazia escolher o que havia escolhido. Falava naquele sonho sobre processo de escolha e a curva da indiferença. Eram as minhas paixões se cruzando, mesmo que elas nunca tivessem conversado comigo mais do que uma frase cada. Não havia sentido naquele sonho, como não havia sentido naquele contato. Por não haver sentido, nem sonho, nem contato foram suficientes para que o desejo de ficar naquele momento de paixões permanecesse. Quando foi às 4:50, o bonde do desejo seguiu seu caminho e deu espaço para uma trava no olho e...

A caixa pálida

Era de tardezinha quando Arthur estava sentado pensando na vida. Naquele mesmo dia ele já havia lido pelo menos 3 jornais diferentes, buscado informações em algumas fontes alternativas e traçado um plano para sua próxima viagem, cujo destino ainda teria de ser escolhido. Ele não estava ligando para onde ia, apenas queria muito sair daquele lugar desgovernado e ver aonde iria chegar. Seus planos sempre eram à prova de pontas soltas. Ele diz que está sempre pronto para a guerra. Tem comida, água, roupa extra, quase todos os materiais de escritório do MacGyver, um treinamento intensivo nas antigas artes orientais da medicina e da meditação, preparo físico para vencer os desafios e a preguiça, além, é claro, de uma mão de ferro quando se trata de dinheiro. Para que alguma coisa desse errado, teria que escapar a sua cara de pau e curiosidade, pois também não tinha muito medo de gente, a menos que fosse uma grande ameaça a sua integridade física ou financeira, já que o sangue já par...