Já era quase de madrugada. Ao redor da sala, tudo escuro. Aqui dentro, LEDs piscavam e permaneciam imóveis o tempo inteiro. Eram sinais de fumaça da era pós-analógica. Quem dera fossem no meu celular. Era só meu modem mesmo.
Ao lado da TV, meu subwoofer subutilizado por medo dos vizinhos ficarem incomodados ao ponto de sermos expulsos logo no primeiro mês depois da mudança. Ele emite luz azul, algo que poucos sabem, mas serve para acordar a pessoa no meio da noite. Mesmo que seja para ficar acordada enquanto dorme, pensando em tudo aquilo que passou ou que não se viveu durante o dia e o que pode estar por vir. E tantas são as coisas que estão por vir... Que péssimo jeito de ficar desperto.
Enquanto me empenhava em criar as oportunidades, os LEDs piscavam de outro lado. 'Mensagem para você'. Não era para mim, mas para outras pessoas com quem eu tentava interagir. Um vácuo digno do delay de mensagens entre Tom Hanks e Meg Ryan. Não estamos mais na mesma época do filme, tudo está mais rápido, instantâneo, fugaz. Não é pra menos que passei a ser chamado de frio: depois de tanto lidar com o pobre sistema de pisca-pisca, aprendi a racionalizar a comunicação sem joguinho. A sensibilidade tornou-se tão fora de parâmetro que a honestidade e a demonstração de interesse (e dos verdadeiros sentimentos) viraram frieza, enquanto ficar aguardando um tempo para dar uma resposta para alguém, não curtir uma foto, não falar um 'Olá' primeiro, tudo isso se torna parte do jogo, do calor da relação.
Não sou bom com essas coisas muito digitais. Tenho preferência pelas coisas analógicas, aquilo que eu aprendo exatamente como funciona e desse jeito posso até consertar. Sem códigos complexos, sem linhas escondidas com variáveis desconhecidas. Por isso me esforço para não me manter olhando para os LEDs, por mais que estes sejam as partes mais analógicas dos meus equipamentos, que só estão ali para avisar que alguma coisa está acontecendo no binário 0 e 1. É que eu não sei lidar com o meu coração analógico quando todo o resto é virtual. Se o meu contato quer ser de pele e sensações, mas o que está disponível é só o status do app. Desculpe, eu não consigo.
Parece que me perdi na história ali em cima, não é mesmo? Acontece que enquanto eu escrevia me deu vontade de dar um abraço em alguém e de repente eu fui. Larguei o texto pra lá e fui. Agora eu vou de novo. Porque, de fato, a minha mensagem para você não é nada menos do que de afeto. Não importa muito isso daqui que eu escrevi. Só me importa saber se a mensagem chegou aí. Eu sei que vai amá-la. Assim como eu amo.
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