É fim de ano. Já passou o Natal e agora nos encaminhamos para o Réveillon. Nessa época costumo ficar embalado nas músicas da Ivete. A proposta de hoje é justamente essa: pare alguns minutos para ouvir atentamente essa música.
Se conseguiu acompanhar a letra, percebeu que ela tem a ver com amor. São vários momentos, desejos e pensamentos que a Ivete compartilha enquanto canta. Parece até uma carta cantada para alguém a quem se ama. Mas aqui fica a pergunta: para quem cantaria essa música? Pare um pouco e reflita sobre isso. Para qual tipo de relacionamento, para qual(is) pessoa(s) você escreveria ou cantaria uma música assim?
Já me fiz esse questionamento algumas vezes de Novembro para cá. Também joguei essa intriga para alguns amigos (que ficaram impressionados com a música da Ivete). Algumas respostas foram bem vagas. Existem aqueles que ficaram bem confusos e me pediram para dissertar sobre, tentar explicar melhor onde eu queria chegar com isso. Um deles me respondeu que não conseguia pensar numa pessoa em específico ou algo do tipo. Tudo isso foi muito interessante porque parece que chegamos a pontos em comum.
Quando se fala sobre amor, preferencialmente a imagem que se tem enraizada na cultura ocidental é a do amor romantizado, entre duas pessoas que até então não possuem laços sanguíneos e se entregam uma à outra para viverem tudo o que há para viver e vencerem juntos as tribulações. Isso tudo é bem detalhado ao longo de vários séculos de produção cultural dos grupos que compõem nossa civilização.
Mas até mesmo a mídia de massa, os filmes infantis e as produções de Hollywood - epicentro da difusão de status quo e padronização de valores globalizáveis - têm explorado outras vertentes do amor. A Disney, por exemplo, tem feito filmes que enaltecem o amor entre irmãos, os vínculos familiares e de amizade (desde Lilo e Stitch - "Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer" - até os mais recentes como UP, Frozen, Malévola - que é uma incrível releitura de um clássico de princesas romantizadas - e Divertidamente). É um movimento muito poderoso de valorização dos afetos, daquilo que é concreto, verdadeiro e recíproco.
Não se tem mais uma fórmula fechada que delimita a experiência de amar e ser amado a uma relação romântica e isso é libertador. Enquanto o amor fosse possível apenas por esse meio, do amor romântico, idealizado e incentivado para além de todos os outros relacionamentos, o amor deixaria de ser libertador para ser escravizador. É como se encontrar a alma gêmea, a metade da laranja, seja lá como chamem, fosse o objetivo de vida e manter essa pessoa consigo um dever, uma obrigação até a morte (ou um martírio). Por essa cultura ter sido tão difundida ao longo dos anos é que eu leio e escuto por diversas vezes pessoas dizendo que não acreditam no amor ou que, a partir daquela desilusão romântica, não acreditarão mais ou não querem mais amar. Porque dói. E dói mesmo. Mas não acredito que seja amor.
A experiência do amor é uma experiência energética. Acredito nisso do fundo do coração. Do contrário, não poderia explicar a forma como lido me relacionando com as pessoas. Amor é energia. Ela pode ser dada, trocada ou roubada. Ela também precisa ser gerada. Há momentos em que não consigo estabelecer conexões, principalmente de troca, pois não consigo perceber a abertura (tanto minha quanto da outra pessoa). Em outros, a coisa flui, não importando que tipo de relação será produzida daquilo ali (se será uma doação ou troca), apenas pelo movimento, pelo afeto nutrido (mesmo que seja algo como amor à primeira vista - quando se bate o olho e sente que é uma pessoa com quem se quer ter alguma proximidade). Mas tem horas que a gente se sente sugado ou sugando. Quando isso acontece é hora de parar um pouco e se afastar - não é uma relação de amor.
Amor de pai, de mãe, de filh@s, de irmão e irmã, de prim@, amig@, de mero conhecido, de avô e avó, ti@, net@s e sobrinh@s, de companheir@s e até de bichos de estimação. Todos podemos ser amantes, de diversas formas. O amor é único, mas as formas de expressá-lo variam de acordo com a teoria dos afetos. Cada pessoa nutre um afeto diferente, independente do rótulo que damos, em momentos diferentes.
A propósito, Ivete disse que fez a música pensando no filho dela. Em como ela se sente quando chega em casa depois de noites de trabalho e que a primeira coisa que faz é ir para o quarto dele vê-lo dormir. Isso é amor, em uma de suas muitas formas.
Não se tem mais uma fórmula fechada que delimita a experiência de amar e ser amado a uma relação romântica e isso é libertador. Enquanto o amor fosse possível apenas por esse meio, do amor romântico, idealizado e incentivado para além de todos os outros relacionamentos, o amor deixaria de ser libertador para ser escravizador. É como se encontrar a alma gêmea, a metade da laranja, seja lá como chamem, fosse o objetivo de vida e manter essa pessoa consigo um dever, uma obrigação até a morte (ou um martírio). Por essa cultura ter sido tão difundida ao longo dos anos é que eu leio e escuto por diversas vezes pessoas dizendo que não acreditam no amor ou que, a partir daquela desilusão romântica, não acreditarão mais ou não querem mais amar. Porque dói. E dói mesmo. Mas não acredito que seja amor.
O mamífero terrestre de maior coração |
Amor de pai, de mãe, de filh@s, de irmão e irmã, de prim@, amig@, de mero conhecido, de avô e avó, ti@, net@s e sobrinh@s, de companheir@s e até de bichos de estimação. Todos podemos ser amantes, de diversas formas. O amor é único, mas as formas de expressá-lo variam de acordo com a teoria dos afetos. Cada pessoa nutre um afeto diferente, independente do rótulo que damos, em momentos diferentes.
A propósito, Ivete disse que fez a música pensando no filho dela. Em como ela se sente quando chega em casa depois de noites de trabalho e que a primeira coisa que faz é ir para o quarto dele vê-lo dormir. Isso é amor, em uma de suas muitas formas.
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