Pular para o conteúdo principal

Limpeza

Depois de uma farra das mais estranhas dentre as que já me meti, só queria duas coisas: uma cura para a ressaca e uma faxina mágica na minha casa. Mas como é mesmo que eu fui parar ali?



Estava tão empolgado com tudo que vinha dando certo até agora que resolvi comemorar. Era muito bacana a ideia de sair e celebrar com um amigo esse momento tão fantástico que eu estava vivendo. O esquenta começou em casa mesmo. Não demorou muito pra que já estivesse embriagado e fazendo besteiras. Mas até aí tudo bem, dentro de casa era tranquilo.

 Foi então que estava suficientemente tonto ao ponto de ser corajoso e sair. Fizemos isso numa velocidade espantosa e, de repente, parecia que eu tinha entrado de penetra numa festa trash. De início, ainda empolgado com a coragem que tinha conseguido com aquele porre inicial, parecia tudo novo e cheio de opções. Mas logo mais a onda foi acabando, a grana foi junto e com tudo isso a graça também. Era, definitivamente, um filme de terror fantasiado de American Pie. Uma obra de péssimo gosto, mas que, pelo nível de entusiasmo anterior, não passou pelo crivo da criticidade e foi direto para a aprovação do otimismo.

Não demorou muito para acabar me perdendo do tal do amigo, ou vice-versa, não me lembro. Só sei que nesse ponto precisava de ajuda. De preferência para ir embora. Mas, como é comum nos filmes de terror, o personagem fica preso na trama até findar o clímax. E como o script era bem trash a coisa foi se tornando cada vez mais ridícula e já estava me apresentando como um personagem imbecil que merece morrer. Ainda bem que não gosto de filmes de terror, nem de beber, muito menos de festas trash.

Na primeira oportunidade que me apareceu saí correndo sem nem me preocupar com a comanda. Isso até me deu uma dor de cabeça bem pesada por algum tempo, mas precisava de ar puro. E como precisava! Pouco antes de dar o fora daquela festa e voltar para casa deu para perceber que a minha ressaca não era simplesmente alcoólica, mas tinha algo mais na bebida. Não demorou muito pra perceber que alguém havia forçado uma intoxicação em mim e que não era um amigo aquele que participou do esquenta comigo. E pior: minha comanda apareceu com outros valores que não reconhecia (até porque não gostava daquilo que estavam cobrando ali, então não teria comprado nem se estivesse bêbado) e as mensagens de cobrança não paravam de aparecer.

Tudo resolvido, acho que é melhor dar um jeito na minha ressaca aos poucos. Pelo menos não entrei em coma alcoólico ou dei perda total, não é mesmo? E preciso urgentemente limpar minha casa. Talvez eu peça ajuda. Parece que alguns bichos indesejados andaram fazendo a farra enquanto eu estive ausente de mim e talvez eu até tenha colaborado (risos). Não deve demorar muito. Minha casa é pequena, mas sempre foi aconchegante, fácil de limpar, afinal de contas, não costumo acumular tranqueiras. É uma excelente hora para jogar água em tudo e tirar além do grosso. Limpeza profunda. Tudo brilhando como novo.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esse tempo que não é meu

Hoje, quero escrever simples. Estou vivendo num tempo que não é meu. Há dias que não me sinto dono dos meus dias. Habitante da minha casa. Sujeito dos meus direitos e das minhas obrigações. Vivo agora o ontem do amanhã, que ainda não vejo. Existo, me movimento, mas não sei para onde vou, porque agora dependo do tempo de algo ou de alguém que ainda não tenho como referência. Já escrevi outras vezes sobre o tempo. Em todas elas, a minha relação com essa grandeza da física estava mais afinada. Eu tinha mais segurança para perceber o desenrolar das coisas de maneira contemplativa e analítica. Era possível até desejar. Neste momento, o tempo está levando embora o meu desejo, me acordando antes dos sonhos doces e esticando os prazos da espera por respostas. Foram dezesseis anos de formação técnico-científica: do curso Técnico em Informática, passando pelo Direito, pelo mestrado e pelo doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Mesmo com uma pandemia no meio, esse tempo todo foi meu. Eu me sentia ...

A fuga da paixão na curva da indiferença

3:50 da madrugada. Era quase segunda-feira. Quase porque a noite ainda não tinha cedido. O olho cerrado enxergava um cinco no lugar de um três. Era quase um seis, mas não fazia nem três que havia dormido. Pensei: posso dormir até às 8. O novo sonho do bloco das 4 trazia algumas paixões. Como é da natureza delas, me carregaram com conforto até um "êxtase inebriante", que fez com que meus olhos imaginários brilhassem enquanto falava com um convertido sobre o que me fazia escolher o que havia escolhido. Falava naquele sonho sobre processo de escolha e a curva da indiferença. Eram as minhas paixões se cruzando, mesmo que elas nunca tivessem conversado comigo mais do que uma frase cada. Não havia sentido naquele sonho, como não havia sentido naquele contato. Por não haver sentido, nem sonho, nem contato foram suficientes para que o desejo de ficar naquele momento de paixões permanecesse. Quando foi às 4:50, o bonde do desejo seguiu seu caminho e deu espaço para uma trava no olho e...

A arte de andar nas ruas (até 01 de janeiro)

Caminhando em direção a lugar nenhum na pequena cidade onde moro tenho uma dificuldade momentânea repetitiva de passar pelas calçadas. Que problema é esse? Madeira de lei obstruindo as vias de circulação. Não a madeira bruta e simplesmente derrubada, mas sim talhada e bem trabalhada em marketing e maquiagem, com formas, tamanhos, poses e promessas diferentes. Já sacou? Recentemente, perto daqui, algumas imagens dessas criaturas pegaram fogo e foram devidamente removidas dos locais de trânsito das pessoas. Ora, já vai lascar a vida das pessoas por 4 anos, por que motivos tem que obstruir passagem do sujeito? Fosse a miss Brasil candidata a prefeita ainda daria vontade de ver cartazes por todos os cantos, mas uma hora enjoa! Ainda mais quando se conhece um histórico de grandes pescarias de "agulhões" entre os familiares. Por isso que o povo do litoral é foda! Voltando ao ponto, é interessante que por mais que existam leis que deveriam servir para todos - inclusive para...